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Entrevista com o inventor da “regra dos 4%”, que acabou de mudá-la

Entrevista com o inventor da "regra dos 4%", BENGEN

Entrevista com o inventor da "regra dos 4%",

(atualizado em 30/ Janeiro 2021 com a entrevista de W. Bengen para a Barrons)

Já se passaram mais de 25 anos desde que William Bengen, um consultor financeiro do sul da Califórnia, criou a “safemax” que ficou conhecida como “regra dos 4%”, que depois foi aperfeiçoada pelo estudo Trinity. Poucas pessoas sacudiram mais o universo dos investimentos pessoais do que Bengen. Milhões de americanos e vários seguidores ao redor do planeta o usam como um marco para determinar quanto dinheiro precisam economizar para uma aposentadoria de longa duração.

Você já conhece a famosa regra deste post aqui, mas simplificadamente, ela diz que se você quiser garantir que suas economias durem pelo menos o mesmo tempo que você, você deve fazer um orçamento para gastar não mais do que 4% do saldo do seu patrimônio líquido inicial – e então apenas ajustar o valor a cada ano em compasso com a inflação.

Esta regra se tornou uma espécie de doutrina no mundo financeiro, com metade das pessoas assumindo como uma verdade absoluta e outra metade como uma verdadeira heresia.
Não significa que o valor de 4% é a regra, o nome da regra é Safe Withdrawal Rate e você é quem define o percentual com base no que investe e seu nível de tolerancia a risco.
Recentemente W. Bengen, que aos 74 anos vendeu sua empresa de planejamento financeiro e se mudou da Califórnia para o Arizona, atualizou seus números. Veja abaixo duas entrevistas dele, a primeira ao site Barrons e a segunda ao MarketWatch, que traduzimos e adaptamos para vocês: 

Algumas perguntas da entrevista de Bengen a Barrons:

1)Por que você criou esta regra?

Eu era um planejador financeiro relativamente novo no início dos anos 90. Eu estava começando a conseguir clientes que eram baby boomers e desenvolvendo um interesse pela aposentadoria. E eles começaram a me fazer duas perguntas. A primeira foi quanto tenho que economizar para me aposentar? E quanto eu poderia sacar? E eu não tinha respostas para nenhuma das perguntas.
Então, examinei meu material de pesquisa. Peguei algumas informações sobre a inflação, sobre as taxas históricas de retorno e comecei a calcular.
E me surpreendeu porque indicou na faixa intermediária, se sua carteira tivesse algo entre 40% e 75% de ações, então a taxa de retirada é a mesma, cerca de 4,2%.
O estudo original foi baseado em apenas duas classes de ativos, títulos do Tesouro de prazo intermediário e ações de grande capitalização. Desde então, conclui que, ao adicionar uma terceira classe de ativos, fundos small caps, os investidores poderiam retirar com segurança até 4,5% ao ano.

2)Você ficou surpreso que seu estudo se tornou a regra padrão na indústria de planejamento financeiro?

Para dizer o mínimo. Fiz isso principalmente para meus clientes. E o interesse que gerou ao longo dos anos realmente me surpreendeu. Eu nunca teria pensado que 26, 27 anos depois, eu ainda estaria fazendo pesquisas sobre o mesmo assunto.

3)Muitos profissionais fizeram seus próprios estudos com todos os períodos possíveis (EUA) e sua regra se mostrou segura. O que dizer?

Sim. Depois que fiz meu estudo e o publiquei, outras pessoas começaram a fazer estudos. Meu maior medo nos meus primeiros anos era que alguém encontrasse um erro numérico e tudo fosse para o espaço, mas não. Foi verificado por pesquisa. Isso foi muito gratificante.

4) A regra ainda se aplica mesmo nos dias atuais de juros quase zero? As taxas de juros despencaram e muitos pesquisadores estimam que a taxa de retirada segura é agora de 2,4%.

Tenho observado os aposentados mais recentes, e você realmente não pode ter certeza porque é para um horizonte de 30 anos. Mas eu fiz estudos com 2 mil aposentados e eles estão indo bem. Eles têm sucesso com essa taxa de retirada, embora estejamos em um ambiente de baixa taxa de juros.
Ainda não estou convencido de que a regra dos 4% seja inadequada. Acho que há uma boa chance de continuar a funcionar, a menos que entremos em um ambiente inflacionário severo.


5)Por que inflação é tão ruim para quem investe para aposentadoria?

Eu penso em uma carteira de aposentadoria como um balão com dois furos. Um buraco são os retornos e o outro é o que você está tirando e gostariaos de ter isso equilibrado. Mas se você tem uma inflação alta, se a quantidade que está tirando ficar grande demais, não há como evitar que o balão desinfle.
Com as taxas de juros tão baixas, os aposentados estão consumindo mais rapidamente os recursos que antes.
Porém há um contrapeso para isso, e é que estamos em um ambiente inflacionário muito baixo. As retiradas estão crescendo a uma taxa muito mais lenta do que de outra forma. Depois de aumentar as retiradas, você fica preso a isto por 30 anos. Não é como um mercado em baixa que chega e depois acaba e você volta aos retornos normais. Não. Inflação fica.


6)Como você investe hoje (EUA)?

Atualmente, estou alocando muito menos em ações do que gostaria. Normalmente tenho uma alocação de 50% das ações. Estou com cerca de 25%. Por que tenho um sentimento muito incômodo sobre a especulação atual neste mercado, os valuations extremamente altos e a disparidade entre o mercado de ações e a economia real com o vírus.

7)Isso não viola sua própria regra de manter entre 40% e 75% dos ativos em ações?

Minha posição é temporária apenas. A média de 40% a 75% é uma média de longo prazo que você gostaria de manter. Estou fazendo isso por causa de condições de curto prazo que considero perigosas. Espero que, depois que isso acabar, eu volte à minha alocação normal de ações. Posso até ir mais alto do que o normal.

8)Muitos profissionais estão indicando a seus clientes já aposentados a colocaram tudo ou até 70% em ações, o que você diz?

Bem, tudo me parece ao contrário hoje em dia. Quando os valuations estão altos, acho que você deve, no mínimo, não aumentar sua exposição às ações e, idealmente, reduzi-la um pouco para reduzir o risco.
O mais importante para os aposentados é que eles precisam manter o seu patrimônio. É um cenário completamente diferente quando você está economizando para uma aposentadoria ainda distante e está disposto a assumir muitos riscos porque deseja que o bolo seja o maior possível.

9)William, o que você está fazendo agora aposentado?
Bem, eu comecei uma nova carreira. Quero me tornar um escritor de ficção, então escrevi uma trilogia de romances, que ainda espero que seja publicada. Já escrevi para centenas de agentes literários e recebi muitos elogios agradáveis sobre minha escrita, mas nenhum comprador até agora. Eu não sei o que eles estão procurando…Pelo menos eu não recebo rejeição pela minha regra de 4% lol !


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Post original da entrevista dele ao MarketWatch


Ele não está pessoalmente usando a regra dos 4% mais e diz que esse número sempre foi tratado de forma simplista.
Ele diz que os 4% foram, historicamente, apenas o “pior cenário”. Baseou-se em alguém que se aposentou nos EUA no pior momento que pôde encontrar nos tempos modernos: outubro de 1968, quando o mercado de ações atingiu o pico e a inflação galopante estava começando. Alguém que se aposentou naquele momento teve que enfrentar uma queda no mercado de ações dos EUA que duraria 14 anos e uma inflação vertiginosa que esmagou o poder de compra de suas economias e triturou os títulos de renda fixa.

 “Alguém que se aposentasse naquela época ainda estaria bem por 30 anos se não retirasse mais do que 4%”, diz Bengen.
Mas, acrescenta, em outros momentos da história – quando a inflação estava baixa e as ações e títulos de renda fixa estavam baratos – um novo aposentado poderia ter retirado muito mais e se saído muito bem. Historicamente, diz ele, a taxa média de retirada segura é de cerca de 7% e, em alguns pontos, chega a 13%. Em 2012 ele atualizou o estudo original para 4,5% mas não obteve tanta audiência quanto no primeiro trabalho.

Seus cálculos, aliás, são todos baseados em uma carteira de aposentadoria conservadora, onde você mantém 30% do seu dinheiro no S&P 500 (SPX), 20% em pequenas empresas americanas, como o S&P Small Caps 600 (SML), e 50% em títulos intermediários do Tesouro dos EUA (TMUBMUSD07Y)

Bengen cita o trabalho do planejador financeiro Michael Kitces que relacionou a TSR com o quanto o mercado está caro ou barato (Shiller CAPE). Segundo ele, este é o gráfico mais importante criado até hoje complementar ao estudo original.

Fonte: fa-magazine/ W. Bengen / M. Kitces (intervalos de 30 anos)

Quanto menor o Shiller CAPE, maior a TSR possível. Você pode ver a Shiller CAPE em tempo real aqui e ela está relativamente alta atualmente.


Então, onde estamos agora?

Bengen diz, com base no ambiente atual, que acha que um novo aposentado americano deve estar seguro se começar com uma taxa de retirada de não mais que 5%.

Isso é o que eu mesmo uso”, Bengen disse em entrevista por telefone ao  Brett Arends do MarketWatch.

“Não é uma mudança radical dos 4%. Mas a regra dos 4% agora é uma regra dos 5%, se quiser.”
Isso coloca Bengen em desacordo ainda maior com aqueles que pensam que o número deveria ser inferior a 4%, e não superior, por causa dos preços recordes de ações e títulos de hoje (yield nas mínimas históricas).
“A média é de 7%”, afirma. “4% é uma regra bastante severa. 4% é o ‘pior cenário’.

Ele concorda que todas as ações e títulos parecem muito caros pela maioria dos padrões históricos. “As ações não têm muitos retornos prospectivos. Todos os ativos financeiros têm retornos prospectivos baixos.”. Mas, diz ele, os aposentados agora têm uma vantagem muito grande em relação ao pior cenário: a inflação muito baixa.
Bear Markets vem e passam, mas os preços mais altos, uma vez que chegam, nunca voltam para onde estavam antes. “Quando você tem inflação, ela vem para ficar”, diz ele. “Você está preso com os preços mais altos pra sempre. O pior dos mundos seria uma volta da inflação alta”.

A safemax ou TSR “Não é uma lei da natureza”, acrescenta ele. “É empírico” – em outras palavras, com base apenas nos dados que temos, desde a década de 1920. “Ela não serve para todos”, e o número que você escolher “pode ser qualquer um”, diz ele.

Fonte: Brett Arends, MarketWatch, traduzido e adaptado por AA40




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