Não podemos negar que FIRE (Independência financeira e aposentadoria antecipada) tem um significado diferente para cada pessoa . Segundo o The Washington Post, somente 13% da população MUNDIAL gosta do seu trabalho. Se você é parte da imensa minoria que ama o que faz, não siga lendo pois não é para você.
Muitas pessoas quando pensam ou ouvem o termo FIRE ou aposentadoria antecipada torcem o nariz. Elas tem a imagem tradicional dos velhinhos aposentados. Parar de trabalhar, ficar jogado pela casa sem fazer nada o dia todo. Porém isto não é o que a comunidade FIRE tradicional nos diz. O parar de trabalhar é opcional. Mas vamos hoje falar um pouco do por que as pessoas rejeitam o “parar de trabalhar” e que isto está condicionado a sua mente e a sociedade e não ao seu livre arbítrio.
Existem milhares, quiça milhões de milionários no Brasil. Nos EUA, por exemplo, existem mais de 11 milhões de famílias com net worth mais de 1 milhão de dólares. A absoluta maioria destes milionários não parou de trabalhar, continuam trabalhando todos os dias. Isto deixa claro que ter dinheiro não é a única coisa que faz um FIRE e a questão psicológica é a questão central.
A grande maioria das pessoas não se encaixam na mentalidade FIRE pois a grande maioria dos seres humanos precisam de algo para se ocupar, um propósito na vida, e, infelizmente, a maioria das pessoas só encontra este objetivo no trabalho.
Na comunidade FIRE existem também exemplos de pessoas que descobriram que tem este perfil. Que só trabalhando é que se sentem produtivos e úteis. Recentemente temos exemplos como o big ERN e o FS, que retornaram ao mercado de trabalho sem necessariamente precisar.
Vamos deixar claro que voltar ao mercado de trabalho por que o plano FIRE está com problemas e é preciso ter mais renda e acumular mais capital, é totalmente OK. Afinal, sabemos que muitas vezes as coisas, os planos, a vida muda e voltar ao trabalho por motivos financeiros é necessário e não significa fracasso no plano FIRE, apenas ajustes de percurso. Porém muitos esquecem que quando você trabalha está vendendo sua saúde física e mental e estas não tem como reaver depois.
Porém muitos destes estão retornando só para ter uma ocupação. Alguns usam a desculpa de precisar manter a mente ocupada, como se não pudessem fazer isso jogando um videogame, fazendo um esporte, viajando, aprendendo uma língua, programação, aprendendo tocar um instrumento, etc. Estes não conseguiram encontrar algo em que ocupar seu tempo e se sentir útil sem ser trabalhando, mesmo com a ampla gama de possibilidades de uso do tempo livre obtido via FIRE. Isto, na psicologia tem nome:
A síndrome do escravo satisfeito
Na psicologia existe um conceito que se aplica de forma surpreendentemente precisa aos indivíduos que alcançam a independência financeira (FIRE) e, ainda assim, retornam ao trabalho sem necessidade: trata-se da chamada síndrome do escravo satisfeito, ou Happy Slave Syndrome.
Todos nós sabemos o que é um escravo: alguém cuja liberdade foi anulada. De maneira semelhante à chamada Síndrome de Estocolmo — na qual uma pessoa sequestrada desenvolve um vínculo afetivo com o sequestrador —, o escravo satisfeito pode, de forma paradoxal, encontrar conforto e até prazer na restrição de sua própria liberdade.
Pessoas que se acostumam com abusos ou limitações muitas vezes chegam a aceitá-los como naturais. Importante destacar: isso não é uma crítica aos empregadores, que cumprem um papel essencial na sociedade. A questão é sobre indivíduos que, mesmo tendo liberdade plena, escolhem voluntariamente retornar ao trabalho. Quando confrontadas com a liberdade, algumas pessoas se sentem perdidas e desorientadas, e passam a perceber o trabalho como um ponto de referência seguro e familiar. Psiquiatricamente, isso cria uma sensação de “bem-estar condicionado”, que pode durar por toda a vida, consciente ou inconscientemente.
Esses indivíduos aceitam condições de vida, estudo e trabalho que não compartilham plenamente, mas toleram porque “é o que se espera da sociedade”. Pensam que estão fazendo o que desejam, mas na realidade estão presos a padrões internalizados — tornando-se, em essência, escravos felizes.
Para ilustrar: se você perguntar a filhos de imigrantes sobre a ideia de se aposentar ou parar de trabalhar aos 35 ou 40 anos, muitos os chamarão de irresponsáveis ou loucos. Para essa geração, o valor do indivíduo está diretamente ligado ao trabalho; o ato de produzir é o único critério socialmente aceito de relevância.
Na sociedade contemporânea, o trabalho tornou-se ainda mais central. Governos endividados, economias interconectadas e empresas focadas em eficiência geram uma pressão constante sobre os trabalhadores, que se veem obrigados a ser produtivos por longas horas. Nesse contexto, o estresse e a sobrecarga mental se tornam quase universais.
O efeito psicológico é significativo: a satisfação induzida pelo trabalho cria uma inibição crítica. O “escravo satisfeito” se contenta em apenas observar o sistema, convencido de que não pode mudá-lo. Essa mentalidade impede que explore alternativas de vida com maior autonomia e significado, reforçando a resignação passiva.
A Corrida dos Ratos
Não é incomum encontrar relatos de indivíduos FIRE que afirmam ser mais felizes trabalhando do que vivendo em liberdade. Esses são os “escravos modernos”, os ratos que se mantêm na corrida achando que exercitam liberdade ou propósito, quando, na verdade, permanecem presos a padrões internalizados.
Quebrar esse condicionamento não é fácil. Buscar autonomia real requer esforço e coragem, pois desviar-se das normas sociais frequentemente gera estranhamento, frustração e, em casos mais graves, depressão. Por isso, psicólogos e psiquiatras recomendam avaliação profissional para diferenciar o que genuinamente traz felicidade do que é apenas imposição social disfarçada de sentido.
Reflexão Final
Você trabalha porque precisa ou porque a sociedade lhe ensinou que o valor de sua vida está atrelado ao trabalho? Ou você trabalha para alcançar a liberdade financeira e, depois de atingi-la, pretende nunca mais retornar ao trabalho sem necessidade?
Não é incomum encontrarmos relatos destes “escravos” em vários fórum e blogs FIRE que dizem que eram muito mais felizes quando estavam trabalhando. Estes, claramente, são os escravos modernos, os ratos que gostam de estar na corrida pois acham que não estão presos mas sim “estão fazendo exercício e mantendo-se em forma”.
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E não é fácil quebrar este condicionamento. Tentar ser você mesmo é muito difícil. Parece que todos nós somos rotulados pelo mesmo padrão, e quando você se desvia dele, você parece estranho para as outras pessoas. Frustração, pessimismo e depressão podem tomar conta de você e, como solução, você tentará voltar para a corrida dos ratos pois é a única corrida que você conhece. Antes disso acontecer, profissionais como psicólogos e psiquiatras aconselham a procurar tratamento especializado para tentar separar o que realmente te faz feliz do que a sociedade impõe para você como felicidade.
E você, é daquelas pessoas que se sentem obrigadas a trabalhar por que a sociedade impõe isto ou realmente trabalha por que precisa chegar na meta FIRE e depois de atingida, jamais voltará a trabalhar sem precisar?
Fontes: Pesquisa diversas do AA40; https://exploringyourmind.com
