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ENTREVISTA: Conheça o Will FIRE, mais um exemplo que é possível chegar lá

Prezados leitores,
Dando seguimento a série de entrevistas com pessoas que já chegaram lá, ou seja, atingiram a IF ou FIRE no BRASIL, falaremos hoje com o nosso comentarista assíduo da blogosfera, o amigo Will FIRE. Te convido a conhecer mais da história dele e fazer perguntas no final: 


1) Will FIRE, obrigado por falar com o AA40 hoje. Você é um comentarista ativo da blogosfera e um dia comentaste que estaria disposto da falar sobre como foi sua jornada rumo a IF. Pelo conceito teórico de FIRE você não se enquadra 100% mas como falei ao i47, o que importa é seguir a maioria dos preceitos, sendo os principais ser frugal, poupar e investir. Mas vamos lá, poderia começar nos dizendo onde mora? 

Adotei o nick Will Fire. Acho que reflete a situação. Moro na capital de um dos estados do Sul do Brasil.   


2) Poderia nos contar um pouco quem é o Will FIRE e se a independência financeira foi algo que sempre buscou ou aconteceu por acaso? Quando se deu conta que seria possível viver de renda?

Queria iniciar com uma introdução: Acho maravilhoso o trabalho que a comunidade FIRE está desenvolvendo no Brasil.  Principalmente você. Parabéns AA40 pelo importante trabalho de educação, divulgação e espaço para o debate.

Há alguns anos, prometi a mim mesmo, não comentar nada sobre Independência Financeira com amigos, conhecidos ou quem quer que seja,  simplesmente porque não havia com quem conversar e quando tentava me achavam meio pretensioso (ou besta mesmo) ou sonhador, então passei a ficar quieto.

Ainda hoje tem muita gente que acha que o tema FIRE é para um bando de deslocados, irresponsáveis ou uma seita (sei lá), imagina há 30 anos quando comecei a me preocupar com isso. Tenho acompanhando diversos blogs sobre esse tema, com bastante interesse, percebi que muito se fala nas estratégias para a FI, mas pouco sobre a fase RE (até porque acredito que são poucos mesmo nessa fase). Então tomei coragem e resolvi contar um pouco da minha jornada e principalmente nas estratégias que adoto hoje na fase pós-acumulação.

Então vamos ao que interessa: Sempre gastamos (eu e minha esposa) menos do que ganhávamos, de maneira frugal, mas fazendo tudo que planejamos fazer. Sempre tivemos uma lista de sonhos e coisas a fazer escrita.

Minha primeira inquietação aconteceu ao ler o Pai Rico e Pai Pobre (lá pelo ano de 92). Comecei a devorar toda a leitura que eu conseguia sobre o assunto, mas não conseguia botar as coisas em prática.

Nosso primeiro orçamento anual completo e estruturado foi em 97(lembre-se que o Real é de 94 e antes disso não era possível fazer nenhum orçamento).
Daí ficou mais claro o objetivo FIRE (na época eu não sabia que era isso).

3) Obrigado pela força. Interessante a época que começou. Poderia nos contar um pouco sobre sua formação, trabalho, renda média ao longo dos anos? Teve alguma herança que te ajudou no caminho ou foi só self-made ?

Sempre trabalhei na área de tecnologia da informação. Sou mestre em Administração. Trabalhei inicialmente na indústria, depois fui funcionário público (não aguentei e saí) e finalmente virei bancário.

Nossa renda sempre foi boa para o padrão de vida que tínhamos no momento. Sempre conseguimos guardar toda a renda extra que entrava (13º, bônus, participação nos resultados, férias, etc.). As heranças foram pequenas então dá para considerar self-made mesmo. 

4) Legal. O assunto agora é Família: Qual o tamanho e o impacto disto nos seus gastos mensais antes e depois de FIRE?

Somos apenas eu e minha esposa. Estamos casados há mais de 30 anos. Ela é tudo para mim. Eu sou o gastador (mas não muito) e ela é quem economiza (mas não muito). 

5) Família pequena ajuda um pouco na jornada. Qual era a sua taxa média de poupança durante a jornada rumo a IF? Com que idade conseguiste atingir a IF?

Nossa jornada é baseada em uma estratégia que eu chamei de “alvo móvel”. Crie algo simples (lá por 98) para buscar nossa IF, segue a fórmula:

DM = Despesa Mensal
DM12M = Despesa média de 12 meses
AFD = Ativo Financeiro Desejado
AFA = Ativo Financeiro Atual
%IF = Percentual de Independência Financeira

DM12M = soma dos últimos 12 meses da DM / 12
AFD = DM12M * 250
%IF = ( AFA / AFD ) * 100

Defini isso sem muito conhecimento na época e somente depois entendi que significava uma retirada de 4,8% a.a.

Desta forma conseguíamos avaliar nossa situação constantemente (mês a mês ou ano a ano). Eu não defini um valor X a ser alcançado, nem uma data Y e nem um percentual liquido entre receita e despesa a ser aportado. Mas com alguma facilidade sobrava 20% no mês e algumas vezes mais de 90%. A média fica em 25%.  

Em função disso não ficávamos muito estressados para chegar lá (na IF), mas sabíamos que se mantivéssemos essa prática em algum momento iria acontecer. 

No primeiro mês do calculo estávamos com 10,5% de Independência Financeira. Em alguns anos, apesar dos nossos esforços, os ativos se desvalorizam e esse percentual chegou a cair.

As despesas também foram se ajustando e, em geral, crescendo de acordo com nossas necessidades (elas vão mudando conforme os anos vão passando). Por isso chamo de alvo móvel: tudo foi se ajustando conforme a jornada foi acontecendo.

Finalmente, em 2006 estávamos próximos ao objetivo de 100% então em dezembro juntando as férias, 13º, bônus, participação de resultados e os 2 salários extras de bancário superamos com folga os 100%.

Estávamos na IF aos 46 anos. O que conquistamos foi liberdade de decisão. Avaliamos a situação e achamos que minha esposa poderia parar de trabalhar (acho que foi uma espécie de prêmio pela nossa conquista). Eu estava em um momento profissional bom então, continuei a trabalhar até 2011.



6) Bem interessante esta estratégia do alvo móvel. Então você nem sabia sobre a TSR 4% muito comum nos planos FIRE/IF? Poderia nos contar um pouco sobre sua estratégia de retirada para as despesas recorrentes?

Na época da acumulação, os investimentos foram bem agressivos, estávamos basicamente alocados em renda variável, fundo multimercado e pouca coisa em renda fixa. A média de 20 anos de investimentos foi de 8,3% real (ex-inflação). Não tínhamos nenhuma aplicação que gerasse renda passiva.  

Foi depois da IF que começamos a migrar aos poucos para ativos que gerassem renda passiva. Inicialmente o Tesouro Direto e em 2007 iniciamos com Fundos Imobiliários.

Não vou comentar muito sobre a fase de acumulação porque a realidade atual mudou e a comunidade FIRE contribui mais para isso do que eu. Então vou destacar como fazemos hoje depois da IF.

Partimos do orçamento anual detalhado baseado nas nossas necessidades e tudo que queremos fazer no ano (lista de sonhos). Hoje as despesas representam 4% dos ativos (o que é uma coincidência em relação à TSR, mas talvez confirme que esse percentual está correto).  

Nesse orçamento são consideradas as despesas correntes (fixas e variáveis) e a renda passiva gerada pelos ativos. Não consideramos aqui as despesas em ativos (explico a seguir). A renda passiva hoje é de 6% dos ativos.

Deixando claro, nossas despesas são 4% e nossa renda 6% então sobra 2% por ano. Mesmo na fase pós-IF economizamos 33% da renda. 

Todo o valor da despesa do ano prevista no orçamento é antecipado para minha esposa em uma aplicação de curto prazo com resgate imediato, separado da carteira de investimentos. Ou seja, eu pago, para ela, antecipado tudo que vamos gastar no ano (serve como fundo de emergência e cobre as despesas).

Minha esposa administra esse fundo pagando todas as despesas. Ela é muito boa em cortar gastos ocultos (aumento da tv a cabo, celular, estacionamento, comidinhas, etc). Assim é ela que sabe se dá para comprar uma roupa ou sapato ou sair para jantar, por exemplo. Não me envolvo com isso.

Toda a renda passiva gerada é transferida de forma automática para esse fundo então, (como entra mais do que sai) a cada 6 meses avaliamos a situação e destinamos o que sobra.

Percebemos que estávamos guardando muito e gastando pouco então criamos um outro fundo exclusivo para Viagem. O que entra nesse fundo só pode ser usado em viagens, em geral, internacionais (sem negociação). Hoje, 40% do que sobra vai para esse fundo e o resto é reaplicado.

Vale salientar que, como os ativos estão aumentando ano a ano, a tendência é que o orçamento tenha um percentual menor que 4% com o passar do tempo. Na verdade iniciamos com 4.8% de TSR e agora já são 4%.

7) Puxa, muito interessante. Isto vai com certeza gerar muitas perguntas dos leitores que estão planejando hoje as estratégias de retirada futura. 
O quer você faz atualmente? Trabalha em algo que gosta de fazer? 

Trabalho em casa, quando quero, em uma profissão do futuro, mas isso é outra história, então não vou comentar.

8) Mistério !! Bom, conte-nos mais sobre que tipos de investimentos que tem hoje? Quais tinha durante a fase de acumulação e como isso mudou após passar para a fase de viver de renda?

Atualmente os ativos estão divididos assim:
70% – fundos imobiliários
25% – títulos públicos com cupom semestral
5 % – renda fixa e outros.

Eu sou o responsável por administrar essa carteira de ativos por isso aqui não são considerados os fundos mencionados antes (despesas e viagem) que são geridos pela minha esposa.

Como queremos manter os 6% de renda passiva só compro títulos públicos quando a rentabilidade está acima disso (mesmo os pré-fixados). Se o momento não é favorável não aportamos em ativos de renda passiva.

Agora como ficam as despesas em ativos? Despesas em Ativos são aquelas despesas para aquisição de ativos não financeiros que saem dessa carteira. Se quisermos trocar de carro (por exemplo) tem que sair dessa carteira de ativos.

Quando trocamos de casa (por uma de menor valor) há alguns anos, a diferença foi incorporada a carteira. Essas despesas ficam condicionadas a valorização da carteira. Se o ano não for bom elas podem ser adiadas.

Desta forma as despesas de viagens e as despesas correntes tem impacto zero sobre a carteira uma vez que foram antecipadas ou geradas com a sobra.

9) Mais um que está investindo pesado em FIIs. Isto prova que esta classe de ativo é fundamental para viver de renda. 
Quais dicas e truques você recomendaria para que está nos lendo e está começando ou já está há alguns anos na jornada FIRE ou IF? Você possui algum blog ou algo do tipo?

É muito difícil dar conselhos, mas posso falar da minha experiência.

Seja agressivo com os investimentos na fase de acumulação e mude o perfil dos ativos para ser defensivo na fase de usufruir. 

Não adianta sobrar bastante se seus investimentos não crescem bastante. Com o tempo o maior ganho vem da própria carteira e não dos aportes.

Separe as despesas correntes (tenha um orçamento) das outras despesas (lista de sonhos). Assim fica mais fácil ver no que vale a pena gastar ou não.

Tenha alguém como companheiro de verdade nessa jornada (esposa, marido, amigo ou parente). Sozinho é bem difícil.

Acho que a principal seria: Não seja muito rigoroso com seus objetivos e metas, seja flexível e adapte-se as situações e ao seu momento de vida. Não fique obcecado pelo número ou pela a data.

Você corre o risco de ficar como o cachorro que corre atrás do carro e quanto o carro para o cachorro não sabe o que fazer.

A jornada é mais importante do que o objetivo. Você quer melhorar sua qualidade de vida e ter mais liberdade então não troque de senhor para continuar escravo. Mude a maneira de ver a vida.

10) Legal Will. Fica evidente a diferença para um FIRE puro como costumo chamar aquele que não se arrisca tanto em renda variável nem na fase de acumulação (<30%). Você já foi bem mais agressivo na estratégia e felizmente deu certo. Eu AA40 prefiro aportar um pouco e/ou trabalhar alguns anos a mais mas ter certeza de chegar lá sem correr tanto risco, enfim, estratégias diferentes também em virtude do trabalho que tenho.
Agradecemos imensamente a disponibilidade para fazer esta entrevista aqui no AA40 Will. Certamente muitos de nossos leitores terão perguntas e comentários que ficarão abaixo. Se puder nos ajudar respondendo seria ótimo. Ninguém melhor que você para tal.  
Quer acrescentar algo ou deixar alguma última mensagem ou comentário? Muito obrigado !!!

Sem problemas. Será um prazer.

Caro leitor, trouxemos mais um exemplo que é possível chegar lá e existe várias estratégias para isso. Agora é com você! Faça suas perguntas para o Will abaixo: 







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