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A inversão da curva de juros americana e os impactos globais

Nos Estados Unidos só se fala nisso no momento. A curva de juros inverteu e acendeu a luz amarela para os investidores. Mas afinal, o que é isso e quais os impactos possíveis? Vamos por parte:


Curva de Juros? 

Como no Brasil, nos EUA também existe o tesouro direto. Só que eles chamam de mercado de bonds ou treasuries. Existem vários títulos mas três títulos do governo federal americano são particularmente importantes: O Título de 10 anos (10-year Treasury bond), o Título de 3 meses ( 3-month Treasury bill) e o título de 2 anos (2-year Treasury bond).
Em condições normais os títulos com maior duração pagam juros maiores já que a segurança no longo prazo é menor teoricamente.
Por exemplo, em uma curva de juros “normal”, Treasuries de 3 meses, 2 anos e 10 anos podem render 2%, 2,5% e 3%, respectivamente.
Se os 3 títulos pagam os mesmos juros, por exemplo 2.45%, a curva é considerada “flat”. 

A curva inverteu esta semana

Uma curva de rendimentos invertida significa que os Treasuries de vencimento mais curto têm rendimentos mais elevados do que os mais longos.
As inversões podem acontecer de várias formas, mas a inversão de Treasuries de 2 anos com 10 anos é geralmente considerada como referência (gráfico 1) e apesar de estar perto de um cruzamento, ainda não aconteceu, mas observa-se um estreitamento do spread, ou seja, uma menor diferença das taxas pagas por eles, o que prenuncia um cruzamento e inversão futura.
(1) Fonte: Adaptado de Tradingview; clique para ampliar

Alguns investidores acreditam que os juros ultra-curtos como o do título de 3 meses (bill) é referência ainda melhor de recessão, tendo falhado ainda menos que o acima. Pelo que vemos abaixo a curva de juros ultra curta de 3 meses contra a de 10 anos já se inverteu, com o 10 anos pagando 2,35%aa e o 3 meses pagando 2.44 ao ano no momento. Este evento ocasionou um grande alvoroço no mercado financeiro americano e mundial esta semana:

(2) Fonte: Adaptado de Tradingview; clique para ampliar

Por que inverteu?

A inversão ocorre basicamente pelo comportamento dos investidores. Teoricamente as inversões acontecem quando os investidores acreditam que uma recessão pode estar chegando e buscam abrigo no investimento mais seguro do mundo – o título de 10 anos do tesouro americano.

A taxa do título de 10 anos é definida pelo mercado (Oferta e procura). Quando os investidores estão com medo, eles correm para a segurança dos títulos de 10 anos fazendo seu preço aumentar e os juros (Yields) caírem. 
Quando o FED está com medo, ele aumenta as taxas de curto prazo para esfriar a economia e evitar a inflação descontrolada. Essas duas forças colidem para produzir uma curva de rendimento invertida.

Se você verificar na corretora Fidelity neste link verá que os títulos de 3 MESES (2.42%) estão pagando quase o mesmo que o de 30 ANOS (2.81%). Algo anormal parece estar acontecendo.

E o que isso tudo quer dizer?

Isto pode não significar nada como alguns analistas estão dizendo haja vista que os quantitative easings e mudanças regulatórias distorceram os juros atuais.
Por outro lado, o passado costuma se repetir e na maioria das vezes em que esta inversão aconteceu, o que se seguiu fui uma recessão nos EUA, ou seja, retração do PIB, aumento de desemprego e quedas consideráveis na bolsa de valores não só americana como mundial.
Em média, apenas 8 meses após a inversão a economia já entrava em recessão, veja: 
Fonte: SeekingAlpha
Uma curva de juros invertida não é um preditor perfeito de recessões. De fato, uma parte diferente da curva de juros inverteu-se em dezembro, e o mercado começou a se recuperar rapidamente assim que os receios diminuíram. Nem sempre isto se confirma, mas uma boa parte das vezes em que aconteceu a recessão se confirmou e com um bull market com mais de 10 anos já, é bem possível que esta vez não seja exceção. Contudo, não é raro a bolsa americana fazer novas máximas antes de azedar de vez.

E o Brasil com isso?

Você pode se perguntar, o que isto afetaria o Brasil? Ninguém sabe o grau em que isto se dá, mas sendo os EUA o motor da economia mundial, não se pode negar que haverá um impacto na bolsa brasileira e também na taxa de câmbio. O dólar teoricamente se enfraquece perante as outras moedas mas é impossível predizer já que o câmbio depende de inúmeras variáveis nos dois países  e na economia mundial. Por exemplo, a aprovação ou não das reformas no Brasil podem impactar mais o câmbio que uma recessão nos EUA propriamente dita.

Aliás, um crash nos EUA e uma não aprovação da reforma da previdência seria a tempestade perfeita. 

E você, acha que desta vez vai ser diferente ou igual? Fique ligado, veremos novos capítulos desta novela em breve, quem sabe ainda este ano.  Deixe abaixo sua pergunta/dúvidas sobre o tema que tentaremos explicar e adicionar ao texto:


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