(Publicado em 01/11/2020)
No quinto post da série ETF TALK do AA40, vamos falar um pouco sobre dois ETFs de tecnologia muito utilizados como satélites de carteiras de investimento no exterior. Estamos falando do QQQ e do KWEB. Vamos falar sobre ETFs?
O por que investir em consumo e tecnologia chineses
Não é novidade para quem acompanha o mercado estrangeiro de perto que as empresas de tecnologia tem se destacado em 2020 com a pandemia e o atual “Work from Home” que os brasileiros, não sei por que, chamam de “Home-Office”. Porém, as empresas de crescimento em tecnologia não se destacaram só em 2020, mas desde 2014 elas vem se sobressaindo sobre as empresas de valor que produzem bens tangíveis, são maduras e pagam dividendos.
Outro ponto importante é que neste setor, os dois líderes mundiais são claramente China e EUA. Empresas chinesas de tecnologia e também de consumo interno estão despontando como as empresas que mais crescem no mundo hoje, assim como as americanas. Se deixarmos a questão ideológica e política a parte, a China está andando a passos largos para se tornar a nova maior super potência mundial e a economia numero 1 do mundo. A questão é quando isto acontecerá e não se acontecerá, de acordo com a maior parte dos economistas e grandes casas de análise. Isto amplificará o consumo interno de maneira absurda nos próximos anos.
Apesar de toda a campanha e guerras comerciais declarados pelos americanos para frear este crescimento, no máximo que conseguirão é atrasar em alguns anos o inevitável. Aliás, em muitas métricas os EUA estão perdendo a guerra e fazendo com que a China dependa cada vez menos dos EUA:
Do lado americano, a pressão para a regulação de algumas empresas como o Google e Facebook poderá aumentar a volatilidade nos próximos anos e quem sabe diminuir o ritmo de crescimento, mas não deverá ser muito significativo no longo prazo. Um dos cálculos mais simples possíveis para verificar isto é aplicar o crescimento anual médio dos últimos 5 anos (pré-pandemia) do PIB de ambos países e projetar quando a China ultrapassará os EUA e se tornará a maior economia do planeta. Veja abaixo.
Temos que 2029 isto poderá já ser realidade, mantidas as taxas de crescimento média dos últimos 5 anos, sem contar que a pandemia poderá mudar isto e atualmente favorece a China. Lembrando que casas de análises e bancos utilizamos modelos muito mais complexos incluindo variáveis como pandemia, guerras comerciais, variáveis políticas, juros, etc. Com isto em mente, o investidor que quer algum retorno a mais para sua carteira, precisa se expor a estes dois mercados que não vão diminuir nos próximos anos e assim aumentar ainda mais, expandir e deverá crescer a um ritmo maior que a média de mercado. O consumo chinês só tente a aumentar na medida que mais pessoas ascendem a classes sociais mais altas e as mais altas consomem ainda mais.
Como se expor a isto? via ETFs como o QQQ e KWEB:
Os ETFS
A cada dia surge um novo ETF para mercado chinês. Temos hoje inúmeros como o CQQQ, MCHI, FXI, GXC, etc. Da mesma forma ETFs de tecnologia americanos. Mas vamos escolher dois dos mais utilizados pelos investidores:
QQQ
Invesco QQQ Trust é um ETF que replica o índice Nasdaq-100, hoje com 103 das maiores empresas de tecnologia americanas.
KWEB
Kraneshare CSI China Internet ETF é um ETF que replica o índice CSI Overseas China Internet Index e atualmente possui 33 das maiores empresas chinesas de tecnologia e consumo interno.
Primeiro, vamos deixar claro que este post não é sobre escolha um ou o outro, mas sim os dois, são coisas complementares. Você deverá apenas escolher a alocação em cada país para serem satélites da sua carteira (ler mais sobre core-satélites). Se você acredita que a China vai crescer mais que os EUA ou se os EUA vão crescer mais que a China nos próximos anos.
Como nosso objetivo aqui não é escolher um ou o outro, vamos apenas observar o custo de ambos. 0,76% do KWEB é bem salgado para um ETF, mas deve sair mais barato e ser mais simples que operar na China (Hong Kong). Já QQQ por ser um ETF americano é bem mais barato, porém ainda é cerca de 6 vezes mais caro que nosso ITOT. Ambos ETFs não seriam boas escolhas para um ETF core pois o custo é mais alto e isto, ao longo de 30 anos, por exemplo, se transforma em milhares de dólares perdidos em taxas. Mas para carteiras temporárias de médio prazo (5 a 10 anos), o impacto tende a ser menor.
O QQQ é de 1999 e logicamente, é bem mais antigo que o KWEB que só foi criado em 2013. Isto se reflete em ativos sob gestão de 131 bilhões para o primeiro e 3.3 bilhões para o segundo. Ambos acima de 1 bilhão e portanto não devem apresentar problemas de liquidez.
Histórico de Rendimentos e volatilidade
Se usarmos o portfoliovisualizer.com para ver os rendimentos dos dois ETFs desde 2014, podemos ver claramente no gráfico abaixo o momento em que a guerra comercial China-EUA começou (notícias começaram no início de 2018).
As divergências de rendimento começam justamente ali com QQQ disparando junto com o valuation das empresas de tecnologia americanas e as chinesas sofrendo mais.
O QQQ apresentou um CAGR de quase 19%aa enquanto KWEB praticamente 13%aa. Ambos bem acima do nosso ITOT ou VTI em 10.68%aa. Porém, o desvio padrão ou volatilidade em relação ao mercado dos dois ETFs são bem altos, em 27% para KWEB muito em função da guerra comercial e 16% para o QQQ contra 14% do ITOT/VTI.
Lembrando que ambos ETFs não apresentam dividendos consideráveis. Seus yield são abaixo de 1%aa e mais perto de zero, já que praticamente todas as empresas visam alto crescimento e reinvestem o lucro na grande parte.
Componentes
Veja abaixo os top 10 componentes de cada ETF.
No QQQ, as FAANG+Tesla com seus valuations bem esticados por conta da pandemia e do movimento de trabalhar de casa são as empresas com maior percentual de participação no índice.
Já no KWEB, a gigante Alibaba (equivalente a Amazon/eBay e Paypal na China) possui 10% de participação no ETF, seguidos de Tencent (serviços equivalente ao Facebook e ao Google na China) e Meituan (outro serviço equivalente ao eBay), ou seja, também bastante concentrado em poucas empresas, por isso estes ETFs são bons para satélites e não cores.
Conclusões
Falar em investir em empresas americanas de tecnologia é quase como chover no molhado. Para quem investe em mercado total, cerca de 30 a 40% está exposto a elas, mesmo não querendo. O alerta fica para não esquecermos da China. Como muitas empresas americanas são proibidas de operar na China, este mercado que tem a maior população do planeta, fica de fora praticamente do alcance de muitas empresas do QQQ, portanto se expor somente ao QQQ e não ao mercado chinês, poderá ser um desperdício de oportunidades nesta corrida despretensiosa chinesa para ser a economia número 1. Para quem ainda acha que a China é comunista e não capitalista só por causa do nome, é hora de rever seus conceitos. Apesar do partido se chamar comunista e o governo ter grande controle sobre a população, na economia é diferente. Eles sabem explorar o melhor do capitalismo, sem explicitamente assumirem isto, ao mesmo tempo que controlam todos os aspectos da sociedade. Na verdade, muitos economistas falam que é o melhor dos dois mundos para o crescimento econômico, pois o controle do capital junto com o controle da população permite que os objetivos sejam alcançados e que todos trabalhem para o isto, seja voluntariamente ou forçadamente, já na democracia, “cada um puxa para um lado”.
Quem leu sobre o o último plano de 5 anos do Partido Comunista Chinês pode perceber que o objetivo principal é cortar qualquer dependência com a tecnologia americana e se tornar auto-suficiente e uma potencia mundial tecnológica, e para isto, investir em “quality growth over speed”, gastando 3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Além disso incluir e digitalizar a parte rural da china que ainda possui cerca de 600 milhões de pessoas sem acesso a internet. Já imaginou metade disso comprando e acessando a internet, qual o impacto nestas empresas do KWEB? Pense nisso !
Caso a sua ideologia anti-comunista seja mais forte que isto, não invista. Eu já prefiro ganhar dinheiro e deixar a política de lado.
Disclaimer: AA40 possui investimentos no ETF KWEB.
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