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Os juros no mundo, no Brasil e a palestra de Paulo Guedes

Muitos leitores entraram em contato nos últimos dias seja via email ou comentando nos posts do blog a respeito da palestra do ministro Paulo Guedes no evento da XP onde ele basicamente diz que o Brasil terá juros de primeiro mundo, será o país dos empreendedores e os “vagabundos” rentistas não terão mais espaço.
Gostaria de tecer alguns comentários sobre isto. Primeiro gostaria de chamar a atenção dos leitores para o evento no qual ele estava palestrando. Um evento de um grupo de corretoras. Vocês estavam esperando que ele dissesse que os traders devessem alocar em renda fixa e esquecer a bolsa?

Segundo, quem não conhece Paulo Guedes, sugiro ler isto e compreender que ele é um especulador nato e um megalomaníaco, ou seja, renda variável e risco é a praia dele.

Fonte: Agencia Brasil-EBC

Como respondi a alguns leitores, Guedes nada mais fez do que o papel dele, de um ministro da economia que precisa colocar a economia para funcionar, diminuir o déficit e fomentar algum crescimento de qualquer jeito ou estará na rua e perderá muito dinheiro e prestígio com isto. Certamente dinheiro e emprego não seriam problema, mas estas pessoas como Guedes e banqueiros em geral (quem não leu o link, Guedes é co-fundador do BTG Pactual) não são motivados por dinheiro apenas, mas por uma coisa bem mais importante para eles – EGO!

Discurso é uma coisa, prática é outra. Para o Brasil ter juros abaixo dos EUA (sem interferência politica) como ele está pregando é preciso que o país se torne desenvolvido e isto vai demorar muitas décadas ainda e isso se tudo der certo, se as reformas forem suficientes para por as contas em dia e o dinheiro restante disso for realmente poupado e não roubado e mal utilizado, se o real se valorizar e se o governo Bolsonaro conseguir sobreviver as inúmeras crises que virão causadas pelo total despreparo já visto até aqui. Ainda dependerá de um segundo mandato e de que o PT e a esquerda continue sendo rejeitada pela maioria. Isso tudo não se pode considerar como certo por que não é.

Uma coisa é certa com este discurso dele porém: Ele vai taxar dividendos e FIIs.

De qualquer forma, temos FIREEs vivendo de renda nos EUA, no Japão, na Suíça mesmo assim. Como o SRIF 365 apontou bem em seu blog, a flexibilidade e adaptação aos diferentes cenários é que possibilita obtermos FIRE e dormir bem a noite. Veja que mesmo com os juros muito baixos na renda fixa americana, muitos FIREEs lá, ainda assim, possuem  uma alocação de cerca de 40% em renda fixa e 60% em renda variável e conseguem sua TSR de 4%aa e dormem e viajam o mundo tranquilamente; portanto o Brasil pode deixar de ser o paraíso dos rentistas mas não deixará de ter seus rentistas e quem sabe isso abrirá o olho de muita gente para finalmente começar investir em moeda mais forte fora do Brasil.

Os juros no mundo

Não podemos negar no entanto algo preocupante que vem acontecendo no mundo. Os juros estão caindo generalizadamente em uma tendência de longo prazo. Algumas economias como a do Japão, da Suíça, Suécia já estão com juros base negativos e na Europa, praticamente zerados. O absurdo completo de o investidor colocar dinheiro na mão do governo e ele usar e devolver menos do que você emprestou. Faz sentido? Só se você não segurar até a maturidade !

Leia: [ Capa da Bloomberg hoje – O buraco negro da renda fixa mundial – 13 trilhões de dólares estão em bonds com juros negativos ]

Por que juros negativos é preocupante?

As taxas de juros negativas estão em desacordo com os princípios básicos do sistema financeiro global. “Uma lei importante da lógica financeira – se você emprestar dinheiro por mais tempo, você deve ter um retorno maior – e isto foi quebrado”, escreveu Marcus Ashworth, um colunista da Bloomberg. “O valor temporal do dinheiro essencialmente desapareceu.” Isto pode levar os investidores a apostas mais arriscadas na busca por retornos, aumentando as chances de bolhas nos mercados financeiros e no mercado imobiliário. Alguns economistas mais radicais já argumentam que isto pode ser o início do fim do sistema financeiro mundial como é hoje.

Quem se beneficia de taxas negativas? Governos ! Imagine se você pudesse pegar dinheiro emprestado e não devolver tudo e nada acontecesse? Isto vai estimular tomar ainda mais dinheiro emprestado o que é extremamente perigoso. Empresas também se beneficiam de mais acesso a crédito  Quem se dá mal? Quem tem dinheiro a emprestar, aposentados, Bancos, fundos de pensão, etc. Ninguém terá o menor incentivo a poupar, só a gastar o que não é seu

Tendências

Há apenas seis meses, parecia que uma década de políticas monetárias globais ultra-estimulantes estava acabando e os juros finalmente subiriam, agora, as taxas de juros estão caindo em massa novamente. Os investidores que ajustaram suas carteiras para um ambiente de alta taxa precisam se reajustar. Isso significa correr para as ações.

Vemos isso claramente no Brasil hoje e a corrida para a bolsa, isso com juros de 6,5%aa, imagina se cair para 4%aa? Não pense você que isto é saudável e uma ótima oportunidade na renda variável para o investidor de longo prazo – não ! Para o trader pode ser a oportunidade da vida porém.

Esta corrida para a bolsa cria valuations absurdamente altos como vemos nos EUA hoje (empresas negociando a mais de 30x os ganhos anuais) e riscos altíssimos por consequência.

O gráfico Shiller PE Ratio é um dos mais utilizados nos EUA  (e levou seu criador a ganhar um premio Nobel em economia) para mostrar quando o mercado está sobrevalorizado. Veja como está no momento, o que acontece depois de picos e a tendencia de longo prazo:

Ciclos e tendencia de sobrevalorização das empresas ao longo dos anos

Estes ciclos se repetem de tempo em tempo. Todos correm para a renda variável por que a renda fixa não retorna o “suficiente”, até que o mercado caia na realidade da insustentabilidade disso, a bolha está formada e o próximo crash acontece e você perde muito, sendo o gatilho do estouro algo pontual geralmente, com o perdão do trocadilho, como o sub-prime ou as ponto com.

Estamos vendo tudo isso acontecer novamente em diferentes estágios pelo mundo, sendo o caso dos EUA o mais avançado no ciclo e talvez o Brasil mais no meio. Porém o agravante da vez são os Bancos Centrais, principalmente o FED e  BCE que acabaram de injetar trilhões nas economias para recuperar da recessão global de 2008 sendo que mal começaram a retirar estes estímulos em 2016 e já começam a baixar os juros novamente para sustentar o crescimento de uma forma totalmente artificial – Se o FED baixar os juros agora em 2019 quando a economia está super aquecida não haverá nenhuma desculpa plausível além da pressão política pela reeleição de Trump. O que eles farão quando uma recessão de verdade bater as portas e todos os estímulos já tiverem sido dados antes, na hora errada? Talvez o resultado será 1930 tudo novamente.

Em meio a tudo isso, o investidor de longo prazo precisa sempre preserve seu capital e se acostumar a ganhar menos em retorno total até o estouro da bolha. Ai quem tiver dinheiro vivo será rei e aproveitará as barganhas e um novo ciclo se iniciará como sempre acontece.

Se quiser aproveitar estes movimentos de curto prazo para tentar ganhar mais, vire trader e boa sorte !

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