Sabíamos que não ia ser fácil para sempre. Mas que chegaríamos a este ponto, poucos imaginariam: Selic abaixo de 3%a.a.
Sabíamos que o novo governo e as novas políticas que almejariam “salvar” o país de quebrar, trariam algo não tão bom para todos nós que desejavam ou já viviam de renda: Juros mais baixos e maior dificuldade de obter retorno sobre o capital investido.
Com juros (Selic) de 12 ou 14% ao ano, com um crescimento econômico pífio e déficits crescentes, o rumo do país ao fundo do poço era mais que certo.
Aceitamos, então, que isto não teria como ser permanente e por isso apostamos que, com o acerto das contas públicas e reformas, veríamos uma expansão da renda variável e fundos de investimentos imobiliários, veríamos uma queda do dólar, veríamos crescimento e controle da inflação. Alguns mais céticos como este que voz fala esperou e não entrou no oba oba da bolsa, mas muitos, a maioria, entrou na esperança de manter os seus altos ganhos na ordem de 1%a.m., algo impensável em países desenvolvidos.
Como sabemos, praticamente nada na vida sai conforme o planejado. O caminho inicial até foi correto, o crescimento parecia estar para acontecer, reformas acontecendo, risco-país caindo forte, juros caindo em um ritmo, confesso, muito maior do que o esperado. Mas tudo bem, enquanto os juros eram “trocados” pelo crescimento da economia real e da bolsa, tudo natural. Mas o caminho do dólar e a fuga de capital estrangeiro parecia estar entregando que nem tudo aconteceria conforme o previsto.
Ai chegamos no atual momento, onde renda fixa e renda variável estão péssimas.
Conversando com amigos via DM do Instagram do AA40, chegamos a conclusão que nunca esteve tão ruim para o rentista (apesar de não gostar deste termo que já se tornou pejorativo – obrigado Guedes) no Brasil como hoje. Claro que ninguém poderia prever uma pandemia como esta, mas não é só isto. O crash recente da bolsa, acentuada queda dos FIIs com algumas suspensões de dividendos aliados a uma Selic que acaba de cair artificialmente para inacreditáveis 3,0% aa hoje, criou uma situação sem saída. A bolsa deveria estar na máxima histórica e dólar muito baixo para compensar. Isto tornou a missão de viver de renda praticamente impossível para alguém que calculou tudo com base em juros históricos ou mesmo de 5 anos atrás e que não tinha uma folga nos cálculos.
Viver de renda com 1 milhão de reais?
Aquela história de que 1 milhão de reais não garante mais FIRE de ninguém nunca foi tão verdade. Com juros reais negativos, qualquer aplicação em Tesouro Selic, Poupança, indexados <150% CDI e praticamente 90% dos fundos de renda fixa não vai lhe gerar um centavo de renda passiva real. E isto não é com 1 milhão, mas com qualquer valor. Além da inflação e da disparada do dólar, que faz o Real valer menos a cada dia que passa.
Para onde fugir?
Para aqueles que já vivem de renda sem uma reserva em dólar e sem flexilidade, a coisa está complicada.
Não é o caso do SRIF365, mas ele fechando o blog muito provavelmente devido ao estresse do momento atual exemplifica bem o momento que estamos vivendo, também nosso colega VR não atualizando mais seu blog é outro sinal. É natural que a preocupação seja tanta que bate o desânimo, a falta de esperança e de uma saída, mas o melhor a fazer nestes casos é esperar a poeira baixar e não fazer nada precipitadamente. Estamos ainda no meio da tempestade sem que possamos ver para que lado estamos indo.
Para os que estão na caminhada, a renda variável em níveis atuais pode ser uma grande oportunidade para o longo prazo. Contudo, a quantidade de empresas cortando dividendos (muitas que o AA40 possuía nos EUA também) e guidance é assustador, então invista via ETFs sempre que possível e mitigue o risco de quebra dessas empresas, apostando na recuperação da economia como um todo no futuro.
Na renda fixa, felizmente os juros longos, aqueles encontrados na curva IPCA+ de 2035, 2045, 2055 ainda apresentam juros reais de quase 4%aa líquido (aliás, 4%aa real é só o que precisamos), algo que poderá ser extremamente difícil encontrar no futuro se continuarmos neste ritmo. Como mencionei, estamos no meio da tempestade e não sabemos se o pior já passou ou este será o novo normal, então dizer se é um ótimo momento para comprar TD IPCA+ nestes níveis é igual falar que em 2016 era ótimo comprar prefixados pagando 18%aa. Hoje sabemos que ter os comprado seria a melhor coisa que você poderia ter feito, mas os juros poderiam estar em 30%aa e a inflação a 25%aa e ai não seria um bom negócio, não é mesmo? Ah, só compre se planejar levar até o vencimento.
Os CDBs prefixados, amplamente ignorados pelos rentistas, alguns pagando atualmente 13%aa, perto de 1%a.m. bruto, podem ser ótimas ferramentas de multiplicação de patrimônio em um cenário de juros e inflação extremamente baixos no curto e médio prazo (há quem já projete deflação). Você saberá hoje o quanto terá no futuro e aí poderá comparar com os diversos cenários futuros.
Já, para quem acredita que a crise política pode culminar em impeachment, ditadura e a volta da esquerda e/ou da impressora de dinheiro, investimentos em ouro e dólar (embora a impressora esteja ligada nos EUA) podem ser boas pedidas, principalmente se a bolsa americana recuar significativamente nos próximos meses (Dica: acompanhe o que Buffett fizer).
Em resumo, o “rentismo” vive a tempestade perfeita, não só no Brasil mas no mundo sem juros de hoje. Mas não irá acabar, longe disso, apenas se adaptará ao novo normal como aconteceu com os FIREEs dos países desenvolvidos.
Há uma preocupação de que bolhas poderão ser formadas pois muitos empilharão seu dinheiro nos poucos ativos que pagam bons juros (REITs, FIIs, pagadoras de dividendos) na caça de Yield então todo cuidado é pouco ao investir. Ampla diversificação ainda é o melhor remédio contra crises.
Muita calma nessa hora, meus caros. Esta crise só criará resiliência em todos nós. Planos mais robustos e com margens de segurança maiores serão consequência e aquele despreparado que pensava que FIRE seria fácil e simples, revisará suas metas.
No mais, quem puder, continue aportando e repense sua data FIRE e seus planos A, B, C e D. Não há nada de errado com adiar um pouco para que possamos ter mais clareza e segurança. “O AA40 mesmo está pensando em se tornar o AA42”.
Quem já é FIRE, agora, mais do que nunca, é hora de rever gastos, cortar custos, ativar o modo CRISE, já que estamos em uma das piores da história, rever plano B, criar um plano C, buscar uma renda extra e isto não significa que seu plano FIRE falhou, apenas significa reconhecer que precisa de ajustes em meio ao mundo louco e imprevisível em que vivemos hoje.
Força, foco e sigamos desbravando e tentando sobreviver a este mundo que, parece, declarou guerra ao “rentismo”! Mas não se preocupe, o movimento FIRE não vai acabar.
PS: O Podcast do SRIF365 fez um episódio comentando este post e a situação atual. Não deixe de conferir clicando aqui.