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Analisando ETFs: As 6 principais métricas que devemos olhar

S&P500 chart

ITOT VTI

Desde que entrou no cenário dos investimentos em 1993, o mercado de ETFs se expandiu dramaticamente, elevando o número total de produtos negociados em bolsa para aproximadamente a casa dos milhares. Esse rápido crescimento deu aos investidores mais opções do que nunca, expandindo o universo de ativos investíveis para incluir quase todas as regiões geográficas, classes de ativos e estratégias de investimento imagináveis. Hoje existe ETF para tudo.

Justamente pela variedade e pelo fato que cada ETF tem suas características, todo iniciante não pode deixar de olhar 6 coisas básicas ao analisar ETFs. São elas:

1) O índice que ele segue: 

A esmagadora maioria dos ETFs segue um índice que é o seu benchmark, ou seja, o conjunto de ativos que comporá sua base de investimentos e contra o qual será cobrado. Exemplo: O índice iBovespa e o  ETF Bova11.

A maioria destes índices se baseiam no valor de mercado de cada componente (market capitalization), ou seja, quanto mais valiosa a empresa, maior o percentual que ela ocupa no índice. Mas cada índice tem sua metodologia própria, com as regras para entrada, saída e permanência nele. A maioria também incorpora dividendos e JCP. Veja por exemplo a metodologia do íbov aqui. Se você nunca leu, vale a pena entender melhor.

Você encontra esta informação facilmente no prospecto de cada ETF junto ao seu emissor, bastando colocar em um buscador de internet, ou no ótimo portal etfdb.com em index tracked.
Por que é importante? Para definir a alocação na sua carteira. A porcentagem da carteira a investir neste ETF. Se for um índice amplo como S&P500 por exemplo, o ETF será core e terá uma maior participação do que um índice como o Prime Alternative Harvest Index que o ETF MJ por exemplo que é altamente específico de um setor (Cannabis) e que, se investir, deve ser satélite ao seu portfolio.

Alerta: Algo que passa desapercebido pelo investidor iniciante: Confundir ETN com ETF. Ao contrário de um ETF, ETN (Exchange-Traded Notes) são ferramentas complexas e de alto risco para o investidor. São notas de crédito sem seguros emitidas por bancos e instituições financeiras e, ao contrário dos ETFs, as ETNs não compram ou mantêm ativos para replicar ou aproximar o desempenho do índice que seguem. Embora os investidores possam encontrar materiais que se referem aos ETNs como ações, eles são, na verdade, obrigações de dívida sem garantia de crédito ou liquidez. Muito cuidado. Leia mais sobre os riscos das ETNs aqui e evite surpresas desagradáveis como o que aconteceu com a ETN USO nos EUA quando o preço do petróleo futuro foi abaixo de zero, veja.

2) Erro de acompanhamento: 

  Traduzindo fica meio estranho mas em inglês é o famoso tracking error ou tracking difference, ou seja, o ETF está mesmo acompanhando o índice que ele se propôs a seguir? Isto antes das taxas e impostos claro.

Veja abaixo um exemplo do ETF SPY (SPDR S&P 500 Trust) e do índice S&P 500 (SPX). Desde o início do ano, o ETF chega a superar o retorno total do índice o que é excelente mas dificilmente isso se mantém no longo prazo. 

Google Finance comparando o ETF ao seu índice

Este dado é encontrado facilmente tanto na sua corretora quando no site dos emissores do ETF. Clique e veja o exemplo do SPY 

O que pode causar tracking error? Basicamente três coisas: A Regra de diversificação da SEC que exige que nenhum ETF pode ter mais de 25% em um único ativo o que em fundos muito específicos pode ser um problema, taxas de trading internos do fundo muito altas ou em grande quantidade e aluguel de ativos dentro de fundos, o que geralmente pode levar a uma maior performance, o que é ótimo para o investidor. Quanto menor o tracking error melhor. Geralmente nos EUA, abaixo de 0.20 é um bom tracking error.  

Tracking error do ETF Brazil (EWZ) no site ETF.com (https://www.etf.com/EWZ)
3) Componentes: 

Logicamente ao investir em um ETF, queremos saber o que estamos comprando naquela “cesta” de ativos, certo? Pois a listagem de componentes ou holdings mostra quais empresas fazem parte do fundo em um determinado trimestre e qual a porcentagem alocada a cada uma. A quantidade de posições que um ETF possui é diretamente proporcional a sua diversificação e ao perfil de risco. Não é regra, mas geralmente dois ETFs seguindo índices similares, o que possuir mais ativos costuma ter um perfil de risco menor. 

Empresas com participação excessiva, mesmo havendo um limite legal de 25% cada nos EUA, pode se tornar mais volátil. Isto vimos recentemente com o índice Dow Jones que possuía a empresa Boeing como seu maior percentual ativo, sofrendo oscilações grandes com a crise da empresa no caso do avião 737MAX. Hoje, por exemplo, a AAPL ocupa mais de 11%  do DJI, o que o torna um índice de maior perfil de risco que o S&P500 com cerca de 5% (é bom para o índice quando a empresa só sobe, mas o contrário também pode acontecer). 

Caso se interesse, recomenda-se também estudar os fundamentos de pelo menos 10 dos principais componentes dos ETFs que comporão sua carteira de longo prazo. Também, dependendo do ETF, é interessante observar a alocação setorial. Se estiver muito concentrado em um setor e é um ETF mais amplo, pode ter um risco maior que um mais equilibrado.

Onde encontrar? Facilmente no site do emissor de cada ETF e também no home broker da maioria das corretoras americanas. Gosto muito do ETFDB para isto. Veja um exemplo

componentes do ETF Brasil EWZ no site etf.com
4) Taxa de Administração: 

Não se pode negar que investir em ETFs é muito mais barato que investir em fundos no Brasil. 

Nos EUA isto já está equilibrado, já que hoje temos mutual funds cobrando zero de taxa de administração (caso do FZROX da Fidelity) mas estrangeiros não residentes não podem comprar mutual funds. 

A taxa de administração ou E.R. (expense ratio como é conhecido) dos ETFs  caíram muito nos últimos anos graças a competição entre os emissores. Hoje temos ETFs cobrando 0.03%aa como IVV, ITOT, VTI, VOO, etc. São 3 dólares ao ano a cada 10 mil investidos para comprar mais de 3 mil empresas de uma vez só. Muito pouco, não é mesmo!
ETFs setoriais e mais específicos tendem a ter taxas um pouco maiores, na casa de 0.05% a 0.20%aa. ETFs que investem fora dos EUA ainda maiores devido as taxas das corretoras e emissores fora dos EUA.

Via de regra, o quanto mais baixo melhor, mas evite investir em ETFs com E.R. acima de 0.25%aa a menos que seja um ETF ativo que não faz parte de seus investimentos de longo prazo. Como descobrir? Qualquer corretora ou site como www.etf.com vão te mostrar isso geralmente com o nome “Expense ratio”.

5) Acumulação/Distribuição: 

Este é um aspecto importante para quem investe do Brasil. Se você leu este nosso post aqui, sabe das implicações de investir diretamente nos EUA quando se é residente fiscal brasileiro. Dentre imposto de renda retido na fonte de 30% sobre os dividendos e 40% de imposto sobre herança na sua morte, você provavelmente vai querer investir via ETFs irlandeses para evitar estas dores de cabeça.

Se decidir por tal caminho, você vai se deparar com dois tipos de ETFs lá, os que distribuem dividendos e os que acumulam os dividendos. Somos tentados a escolher os que distribuem dividendos pelo simples fato que gostamos de receber dinheiro todo mês, mas neste caso você estará pagando um imposto de renda desnecessário que não acontece se escolher um ETF de acumulação. Quer entender mais, assista a este vídeo.

Já se você for um residente fiscal americano, você vai querer otimizar seu imposto de renda e investir em ETFs que paguem muito dividendo (alto yield) pode significar que uma porção de sua renda irá diretamente para o leão (IRS). A menos que esteja em uma conta aposentadoria como 401k, ou IRAs.

6) Valor sob gestão e spread:

Por último, algo que devemos dar uma olhada também é o valor que o ETF tem sob gestão (AUM). ETFs pequenos com menos de 1 bilhão de dólares sob gestão podem ser facilmente destituídos, ou seja, desmanchados e você será liquidado, pois eles dão trabalho ao emissor mas não dá lucro pelo valor pequeno gerido. Você não perderá com isto, mas será liquidado podendo ocorrer ganho de capital e por consequência fato gerador de imposto.

Spread, que é a diferença entre o preço pelo qual alguém está disposto a comprar e o preço pelo qual alguém está disposto a vender, também tem relação com o AUM. ETFs “grandes” geralmente tem spread menor. Isto pode não ser preocupação para os Buy and holders mas centavos podem fazer diferença em 20 anos, se você compra todo mês por exemplo.

Procure sempre investir em ETFs consolidados, com mais de 1 bi  de AUM, de preferência de emissores conhecidos e respeitados como BlackRock, Vanguard, State Street, Invesco, Schwab, Fidelity, etc com mais de 5 anos desde a criação.

Onde você encontra isto? Acima na imagem vemos o site etf.com que mostra isto claramente. A última coluna é o AUM.

Você sabe como a gestora ganha dinheiro com ETFs?

Vocês logo diriam que é com a taxa de administração, mas não só, boa parte do lucro para as gestoras provém do aluguel das ações que elas detém dentro do fundo para aqueles investidores que operam vendido. Parte retorna para o ETF mas parte (até 30% em alguns casos) fica com o gestor.

Por enquanto é isto pessoal. Estas serão as principais métricas, mas não as únicas, que usaremos nos próximos posts onde falaremos um pouco sobre alguns ETFs que eu gosto e invisto e outros que vocês solicitarem pelo Instagram ou comentários. 

Comentem abaixo e até a próxima.    


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