Há poucos dias provocamos nossos seguidores no Instagram acerca dos CEFs (Fundos de investimentos fechados ou Closed-End Funds). Pouca gente conhece estes fundos segundo nossa pesquisa, mesmo o primeiro deles tendo sido criado em 1893 e centenas deles sendo negociados na bolsa todos os dias, como uma empresa ou ETF qualquer !
A relativa falta de popularidade dos fundos fechados pode ser explicada pelo fato de eles serem um veículo de investimento um tanto complexo que tende a ser menos líquido e mais volátil do que os fundos abertos, e utilizado apenas por investidores mais agressivos e/ou experientes.
Hoje vamos falar um pouco sobre eles, o que são, quem os utiliza, quais os prós e contras de se comprar fundos fechados.
O que são CEFs?
Primeiramente vamos começar diferenciando CEFs dos ETFs e fundos abertos.
A maioria dos fundos de investimentos em ações e ETFs no mercado são abertos, ou seja, o valor de mercado dos ativos flutua e conforme investidores vão comprando eles vão comprando mais ativos e emitindo novas unidades de forma que o valor do fundo é o valor de mercado dos ativos nele.
Um CEF, ao contrário, é fundo fechado. Uma carteira de ativos que levanta um montante fixo de capital por meio de uma oferta pública inicial (IPO) e, em seguida, lista ações, em um número fixo, para negociação em uma bolsa de valores. Mas ele não emite novas unidades nem compra e vende os ativos que tinha no início. Ao contrário de fundos abertos, novas ações em um fundo fechado não são criados pelos gestores para atender a demanda dos investidores. Em vez disso, as ações podem ser comprados e vendidos apenas no mercado, a prêmio ou a desconto em relação ao valor líquido dos ativos (NAV ou Net Asset Value).
Em um fundo aberto como um ETF, o NAV é exatamente igual ao valor de mercado do fundo.
Simplificando, pense em um CEF como uma empresa que compra uma cesta de ações e ativos, quase sempre usando alavancagem por isso pagam dividendos mais altos, e que faz um IPO disso, colocando a venda cotas no mercado.
Temos CEFs com os mais variados ativos: Ações, REITs, Renda Fixa, Bonds Municipais (com isenção de imposto de renda federal para os residentes fiscais americanos) e híbridos ou mistos.
Como falamos, o preço de um CEF flutua não apenas em razão do preço líquido dos ativos (NAV) que ela possui flutuarem, mas também em razão a oferta e demanda pelo fundo. Com isto a volatilidade dos mesmos tende a ser muito mais alta que um ETF similar.
Desconto e Premium
Temos a primeira métrica importante deste tipo de fundo. O Desconto / Premium (última coluna da imagem abaixo). Ou seja, por exemplo, você tem um fundo cujos ativos valem $100, se o fundo estiver descontado (negativo) em 5%, ele estará sendo vendido por $95 e se estiver a premium (positivo) de 5% ele estará sendo negociado a $105, mesmo que seus ativos líquidos (NAV) esteja valendo apenas $100.
Importante ressaltar que mesmo comprando um CEF a desconto, não há qualquer garantia que um dia ele estará sendo vendido pelo NAV ou a premium. Alguns fundos sempre vão negociar com desconto, outros sempre a premium, dependendo da qualidade do fundo, do gestor, dos ativos, da procura no mercado, etc.Veja:
Fonte: https://www.cefconnect.com/fund/NVG |
Distribuição e Yield
Os CEFs tem como principal característica distribuírem renda como um fundo de renda fixa ou FII no Brasil. Por isto eles são tão procurados por aposentados, fundos de pensão e pessoas que precisam de renda, ainda mais agora diante de um ambiente como atual de juros zero.
Veja na primeira imagem acima o “Distribution rate”. Seria o “dividendo” pago pelo fundo, mas tecnicamente não é dividendo. Veja que o Yield é consideravelmente alto para os padrões atuais. São fundos de renomados gestores com distribuições mensais (veja coluna frequency) consideravelmente altas.
Mas você já pode estar se perguntando, qual a pegadinha, parecem muito bom para ser verdade não é? Vamos comentar abaixo alguns poréns:
Existem fundos CEF muito bons, mas a maioria deles emprega alavancagem. Abaixo a mesma lista com a alavancagem percentual e se empregam tal tática.
fonte: cefconnect |
Vejam que apenas dois não possuem alavancagem. Alguns possuem alavancagem de quase 50%. Considerando todo o mercado, mais de 70% deles usa algum tipo de alavancagem.
Sabemos que alavancagem pode aumentar os ganhos, mas certamente aumenta os riscos também. Por isso muito cuidado com CEFs alavancados.
A taxa de administração
CEFs possuem, em geral, taxas de administração muitas vezes mais cara do que um fundo aberto. Acima de 1% é quase a regra. Este é um dos principais motivos que muitos não investem nos CEFs. A alavancagem em sí já gera custos elevados para o gestor. O processo de IPO e a administração das distribuições também agregam no valor da taxa.
Há extremos como o CEF OXLC cobrando mais de 15% a.a. de Taxa de administração, distribuindo 18.49%a.a.:
Na média o expense ratio (ER) variam entre 1%aa a 5%aa. Abaixo de 1% poucos fundos são encontrados, inclusive o único que o AA40 investe, o RFI.
Abaixo uma lista com exemplos de fundos, alguns deles acima de 1 bilhão e ER médio:
Abaixo da lista de CEFs sem alavancagem com maior valor de mercado e menor taxa de administração, a partir de um filtro aplicado a partir da corretora Fidelity:
clique para ampliar |
A preço do CEF ao longo dos anos
Convido para colocarem os tickers acima em um serviço de gráficos como o TradingView.com e observar o comportamento dos preços em um gráfico semanal ou mensal.
Talvez seja este o motivo principal de poucos investirem nestes instrumentos. Como eles usam alavancagem, cobram taxas muito altas, e distribuem altos “dividendos”, o ganho de capital da maioria deles é negativo. Declina com o tempo, pois claramente a estratégia deles é prover renda e não ganho de capital.
Alguns deles, os maiores como o NEA, NVG, NUV, até conseguem manter uma certa estabilidade, mesmo com volatilidade, ao longo dos anos, porém o yield deles é um tanto menor.
A maioria apresenta padrões como os gráficos abaixo. Muitos deles jamais conseguiram superar os preços pré-crise de 2008.
Falamos acima do OXLC como um extremo de custo e distribuição. Veja o que acontece com seu preço ao longo dos anos:
Portanto, o preço se ajusta as taxas e distribuições acima do sustentável que estes CEFs possuem, fazendo com que seu capital seja basicamente retornado a você sob a forma de renda, sendo ainda cobrado imposto de renda sobre ela.
CEFs e o investidor Brasileiro (imposto)
Sabemos que o investidor brasileiro é fã de carteirinha de receber renda e dividendos. Closed-End funds a primeira vista pode parecer ouro que poucos conhecem para o iniciante, mas a verdade é que, por sí só CEFs já são instrumentos complexos, caros, e que visam renda. Juntando a isto e considerando a taxação do imposto de renda de 30% na fonte feita para aqueles investidores não residentes americanos (os W-8BEN), fica evidente que não há qualquer vantagem em investir neles.
Ganho de capital é algo sim que o investidor precisa buscar no exterior, já que não é tributado nos EUA e possui isenção para vendas de até R$ 35.000 mensais no Brasil. Dividendos e renda é tributado pesadamente, fazendo dos CEFs um instrumento de maior valia caso o investidor seja residente fiscal americano e melhor ainda caso tenha acesso a contas aposentadoria tipo 401(K) e IRAs que possuem benefícios fiscais.
Conclusões
Enquanto a grande maioria dos CEFs são alavancados, caros, e simplesmente conversores de principal em renda, não podemos generalizar. Existem CEFs muito bons, com distribuições razoáveis, custo também e gestão excelente que consegue manter o preço médio estável e ao mesmo tempo provendo renda.
Estes são geralmente os fundos que mais possuem investidores e o tamanho (market cap) é um primeiro indicador disto. Veja a lista dos 100 maiores CEFs atualmente em valor de mercado. Estude-os caso haja interesse !
Para o residente brasileiro, a questão tributária novamente é um dos principais empecilhos para o investimento em bons CEFs, uma vez que o principal motivo para investir neles é obter renda passiva, que é tributada em 30%. Algo que não acontece com ganho de capital, que os CEFs praticamente não provém.
Ressalva: Um dos principais poréns para o FIREE é que estes são fundos ativos, indo contra a estratégia mais aceita da comunidade FIRE para indexar e escolher fundos passivos abertos (ETFs) para isto.
E ai, gostaram de saber mais sobre os CEFs? Ficou dúvidas? Perguntem abaixo: