Como assim? 1 milhão não é mais suficiente para se aposentar?
A capa online do jornal New York Post deste final de semana trouxe uma reportagem interessante cujo título é “Americanos precisarão de $1.5 M para se aposentar confortavelmente“.
O artigo diz que o tão falado 1 milhão de dólares que costumava ser mais que suficiente para se aposentar confortavelmente até pouco tempo atrás já não é mais suficiente. Planejadores financeiros lá agora estimam que este número é de um milhão e meio de dólares.
“US $ 1 milhão não é tão duradouro como costumava ser. Está realmente muito ruim ai fora”.
A premissa básica desta opinião é que as políticas monetária e de redução de impostos estão criando uma super valorização das ações que não são baseadas em fundamentos e é consenso que o rendimento médio do mercado acionário nos próximos anos nos EUA será abaixo da média histórica devido a isto além de poder ocorrer uma forte correção a qualquer momento . Além disso, as taxas de juros historicamente baixas requerem mais capital na aposentadoria para gerar a mesma quantidade de renda passiva que a geração passada estava acostumada.
Trazendo para o Brasil
Traçando um paralelo com o Brasil, percebemos nitidamente que o grande sonho de ter
1 milhão de reais na conta, apesar de ainda ser o objetivo de muita gente, pode não ser o bastante para garantir renda passiva suficiente para cobrir todos os seus gastos – mas o motivo é outro – a inflação.
Um milhão de reais na conta hoje continua sendo uma ótima quantia e hoje lhe permitiriam uma renda passiva mensal conservadora de R$ 3.333 (
TSR 4%). Pela TSR, esta quantia é corrigida todo ano pela inflação assim como sua retirada, protengendo capital e saques contra perda do poder de compra.
Agora vamos supor que você ainda não tenha 1 milhão hoje e está planejando ter ele apenas em 2028, dez anos no futuro. Nosso objetivo ainda seja o famigerado 1 milhão de reais. A renda passiva possível continua sendo R$ 3.333 mas o que a inflação teria feito com o poder de compra deste valor em 10 anos?
Vamos supor uma inflação no centro da meta em 4% aa. Em 2028, para comprar o que você compra hoje com R$ 3.333 seriam precisos R$ 4.933 reais.
A grosso modo, a inflação, mesmo no centro da meta, vai lhe tirar R$ 1.600* reais de poder de compra em 10 anos, ou quase a metade do valor presente (seria o mesmo que você ter hoje R$ 1.700 reais e não R$ 3.333).
Se considerarmos que queremos manter este poder de compra proporcionado por 1 milhão de reais de capital hoje, devemos ver qual montante lhe dará uma renda passiva de R$ 4.933. Usando a TSR 4% chegamos a R$ 1.480.096,26 e, como nos EUA, muito próximo a 1.5M. Este é o valor a ser utilizado para quem está almejando atingir o seu “um milhão” em 10 anos.
Quem possui este valor hoje, basta investir bem de modo a não perder poder de compra, sempre superando a inflação em no mínimo 4%aa.
* Conforme observado por alguns leitores mais críticos, não poderíamos misturar valores presente com valores futuro .Como neste caso é uma estimativa apenas e ela ilustra bem a perda equivalente do poder de compra e ajuda a refletir, vamos manter esta comparação com esta observação.
Conclusão
Cada um sofre com os seus problemas. Isto também é verdade nas finanças. Enquanto nos EUA a inflação é muito baixa, na casa de 1-2%aa, a necessidade de guardar mais dinheiro para proporcionar a mesma renda passiva se deve a baixa taxa de juros na renda fixa e a
expectativa de retorno futuro do mercado acionário ser menor nos próximos anos, no Brasil, a inflação é o grande vilão. Mesmo dentro da meta ela pode corroer metade do poder de compra em apenas 10 anos.
Instrumentos que proporcionem retorno real, ou seja, acima da inflação, são essenciais para garantir a manutenção do poder de compra. Além disso, o mercado acionário brasileiro, apesar de ter uma alta correlação com o mercado americano, encontra-se em uma fase de retomada do crescimento em que é possível conseguir rendimentos superiores ao da média da década e, portanto, torna-se um belo instrumento de alavancagem dos rendimentos, mas isso só se você investidor souber o que está fazendo e entender os riscos inerentes à renda variável.