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Os juros, o record da bolsa e o bull market brasileiro

A possibilidade de viver de renda com 500 mil, 750 mil e 1 milhão de reais já foi discutida em extensão neste post. Apesar da situação do país, juros e inflação estarem totalmente diferentes agora em 2019 em relação a quando escrevemos aquele post (2017), vimos que é muito difícil parar de trabalhar com menos de 1 milhão de reais e ter um padrão de vida razoável pelo resto da vida, claro que depende também de sua idade.

Os juros reais, que considero genericamente como sendo a diferença entre a Selic e o IPCA, estão cada vez mais achatado ultimamente. Enquanto os juros caíram para o menor patamar da história e sentam agora em 6,4%aa e podem até cair mais, o IPCA está acima do centro da meta, ou seja, aumentou dos 2,95% em 2017 para mais de 4,66% nas mais recentes divulgações. Os juros reais portanto estão em míseros 1,7%aa. Juros baixos são ótimos para empresas e tomadores de dinheiro mas péssimo para os poupadores.
Para piorar, todos os títulos públicos que pagam juros reais (IPCA+ ou NTNBs) estão pagando menos de 4%aa reais bruto, fazendo deles um péssimo investimento de longo prazo atualmente já que pagam menos que a TSR 4% (talvez ainda bom para trades curtos mas não é nosso foco aqui).

Em contraste a isso, temos o mercado de renda variável que vem batendo records, ultrapassando a barreira de 100 mil pontos e rumando a prováveis 120 mil pontos em breve. O Brasil está em crise? Pode ser, mas isto passa longe da realidade da ilha da bolsa.

Vivemos um bull market no Brasil

O que muita gente não se deu conta ainda é que já vivemos um bull market no mercado de bolsa no Brasil desde meados 2018 e um bear market nos juros desde antes disso.
Um bull market se caracteriza por uma alta geral de mais de 20% sem um declínio de 20%  ou mais neste tempo. A última vez que tivemos mais de 20% de queda no IBOV foi Maio a Junho de 2018, ou seja, há um ano. Desde então vivemos um bull market e o mercado subiu praticamente 50% sem quedas significativas. O índice principal já subiu quase 180% desde 2016.
Apesar da economia estar engatinhando e o PIB não mostrar crescimento de verdade, o mercado não quer saber muito disso e prefere olhar sempre para as perspectivas futura, ou seja, é sempre muito pior do que realmente é ou é muito melhor do que realmente é. O mercado vive de expectativas e a aprovação da reforma da previdência tem jogado o preço dos ativos para cima e dos juros futuros para baixo.

Não podemos nos esquecer porém, que a menos de um ano atrás, com a Selic já nos patamares atuais, se encontravam prefixados pagando 12%aa; IPCA+ acima de 5%aa real e isto vai se repetir no futuro, pois tudo é cíclico. O fato é que está muito mais difícil viver de renda fixa apenas. Apesar da TSR 4% continuar se aplicando sem problema nenhum, afinal ela é calculada com base em 30 anos, não 3, é preocupante se este período de juros apertados continuar por mais de 5 anos, especialmente para quem começou sua vida FIRE agora e está com mais de 70% da carteira em Renda Fixa.

Se você acreditar que o Brasil realmente está se tornando um país desenvolvido ou mesmo um emergente descente e ainda esteja na fase de acumulação, talvez já tenha passado da hora deste investidor mais conservador rever a alocação de ativos tido como “default” no Brasil que seria algo como 75% RF e 25% RV para algo um pouco menos conservador como 60% x 40% ou até 50% RF x 50% RV.
O problema de afirmarmos que esta é de fato uma mudança de paradigma é que no Brasil não temos consistência de governo, de juros, de mercado, de sociedade, de praticamente nada, e continuamos a ser o país do futuro que nunca chega, conforme afirma nosso colega MicroInvestidorNerd no seu post sobre o livro “Por que o Brasil é um país atrasado”.

E fazer o que?

Caro investidor FIREe, parece que escrevi muito e não disse nada. As vezes o melhor a fazer é não fazer nada mesmo, navegar pelas águas turbulentas, deixar os bons ventos da bolsa atualmente empurrar o rendimento da sua carteira (mesmo estando alocado apenas 20% ou 25% em bolsa) para patamares acima da Selic/CDI. Rendimentos em linha ou acima do CDI com consistência tendem a superar qualquer tentativa de arriscar tudo em bolsa em prazos maiores.
Tem um montante considerável para investir ou aportar todo mês? As opções em RF estão muito complicadas para investidores longo prazo. Deixar no Tesouro Selic aguardando oportunidades pode ser o menos pior a fazer no momento.
Quiser alterar sua alocação em bolsa (seja via FIIs, Multimercados ou ações diretamente),  para tentar ir com a turma da moda, faça, porém tenha consciência que tudo no mercado é feito de ciclos e hoje o que é moda e dá bons retornos amanhã será o que ficará para trás e o ativo que não está na moda hoje volta a ser o queridinho do mercado em questão de meses. Por isso você precisa ter um PIP.

Bons investimentos !


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