Como gerar renda passiva de verdade durante a aposentadoria antecipada

Descobrindo FIRE

Como sabem, sou um fã da TSR por que foi quando eu a descobri que bateu aquele momento “eureka” há alguns anos atras e isto abriu uma nova perspectiva para o dinheiro que estava juntando – a possibilidade FIRE.
Tanto aqui quanto no exterior, a regra dos 4% é amplamente usada para planejamento da independência financeira e ela tem servido muito bem ao propósito. Antes considerada conservadora no Brasil agora não é mais tanto dada a tendência de juros mais baixos por aqui no futuro.
Outro assunto porém é quando precisamos obter estes 4% para começar a viver de renda. Precisamos planejar melhor para maximizar o dinheiro possível de ser retirado, evitando tarifas e impostos ao máximo.
Se os juros compostos são a oitava maravilha do mundo, a renda passiva é a nona – EP

Renda passiva de verdade

Este artigo é voltado para fazer você planejar os primeiros anos ou a primeira década FIRE.

Ao finalmente alcançarmos a sonha FIRE, nos deparamos com a necessidade de “vender” parte dos investimentos a cada ano para financiar os custos do dia a dia. 
Podemos fazer isto e não há nada de errado, porém esta forma de viver de renda não é considerada totalmente passiva, pois precisamos vender investimentos que por ventura estamos mantendo por anos, incorrendo em impostos sobre ganho de capital e taxas de transação, indo contra nosso principio do Buy-and-Hold.

Uma maneira de puramente viver de renda passiva é montar um portfólio que provenha dividendos de tempos em tempos (mensalmente, trimestralmente, semestralmente, etc).

O famoso Dividend Yield

Simplificadamente dividendos nada mais são do que um dinheiro que alguns ativos te pagam periodicamente só por tê-los em carteira, não importando se o preço cair ou subir.
Quem tem alguma intimidade com o mercado conhece o termo “dividend yield” ou rendimento em dividendos. Este termo é muito comum nos EUA e mesmo aqui no Brasil com empresas listadas que pagam dividendos (em dinheiro) aos seus acionistas. 
  • Por exemplo, o AA40 tem no seu portfólio americano um ETF chamado ITOT (S&P Total Market) que hoje possui um dividend yield de 1,68% aa. Isto significa que se eu tiver investido 100 mil dólares nele (oxalá), em um ano vai pingar brutos na minha conta $1.680 dólares (pagos trimestralmente) sem eu precisar vender nada. Na verdade este yield está muito baixo no momento mas o objetivo dele não é renda  passiva mais sim valorização de preço).
  • Outro exemplo que AA40 tem é o REIT “O – Realty Income Corp” que hoje possui um Dividend Yield de 5.11%, ou seja a cada 100 mil investidos nele, vai retornar $5.110 dólares anuais brutos em dinheiro (este sim visa renda passiva por isso Yield deve ser mais alto). 

Montando um portfólio de renda passiva

Para montar um portfólio que provenha renda passiva suficiente para manter suas despesas sem precisar vender ativos é preciso primeiro identificar qual yield necessário para cobrir suas despesas. Nos EUA isto é chamado de Yield Shield, ou escudo de renda.
Naturalmente, partiremos do principio que 4% (aproveitando-se do conceito de TSR) são suficientes. Suponhamos que tenha 1,5 milhões de reais de patrimônio líquido, 4% seriam 60 mil reais anuais ou R$ 5.000 ao mês.
OK. Sabendo o valor necessário, buscaremos aplicações que paguem dividendos. No Brasil os dividendos de ETFs e fundos são automaticamente reinvestidos no principal, ao contrário dos EUA. Isto é ótimo quando você está na fase de acumulação, mas ruim quando está querendo viver de renda passiva.
Sabendo disso, temos que partir para basicamente três classes de ativos que pagam dividendos ou juros: FIIs/REITs (Fundos de Investimento Imobiliários e REITs americanos), ações pagadoras de dividendos e Tesouro Direto com pagamentos de juros semestrais. 
A alocação em cada classe dependerá de seu perfil de risco. Como FIIs e TD atualmente possuem “yields” acima de 4% ao ano, isto significará que não precisará aportar 100% do seu patrimônio líquido nestes ativos para obter 4% de retorno passivo. Sobrará parte da carteira para aportar em ativos que não necessariamente paguem dividendos mas que sejam focados em crescimento.
Coloque tudo isso no Excel e saberá quanto de renda passiva cada ativo gerará mensalmente. Cuidado que os Yields variam constantemente.  

Segurança e Tributação

Vale lembrar que investir em ações de dividendos no Brasil não é tão seguro quanto nos EUA, seja pela obrigatoriedade de aqui das empresas pagarem só 25% do lucro por aqui (90% se forem FIIs), histórico de pagamentos não é tão longo muito menos estável para a maioria das empresas brasileiras, cortes de pagamentos são bem mais frequentes que lá (veja Petrobras que parou de pagar desde 2014), dentre outros. Porém ao contrário dos EUA, no Brasil dividendos são isentos de IR o que é uma das poucas vantagens, já nos EUA, para não residente lá, o imposto retido lá chega a 30%, embora possa ser compensado no Brasil, precisa calcular para ver se vale a pena – leia mais sobre tributação nos EUA.

E a Inflação?

Além de bonds protegidos da inflação (TD IPCA+ c/ js), em um portfólio de ações do tipo Buy and Hold gerador de renda passiva contamos também com a valorização do preço dos ativos no tempo (price appreciation), já que não vendemos nenhum lote. Esta valorização ao longo dos anos além da renda vai, teoricamente, anular os efeitos da inflação e na maioria dos casos, superar em muito.

Isto vem da lógica de mercado de que se compramos ações de empresas que vendem produtos e serviços e elas aumentam os preços (o que provoca a inflação) elas mesmas serão “beneficiadas” e na teoria os efeitos se cancelarão mutuamente. O mesmo é verdade para os FIIs e REITs que aumentarão o preço dos alugueis e repassarão boa parte para você.

E na Fase de Acumulação?

Devemos começar a montar uma carteira de renda verdadeiramente passiva muito cedo, ainda no início da fase de acumulação, comprando FIIs, REITS e boas pagadoras de dividendos quando os preços forem caindo seja por crises ou reação exagerada por parte do mercado a taxas de juros e crises, mas principalmente, em ativos que tenham um histórico de aumentar o pagamento dos dividendos todos os anos.
Alguns exemplos de empresas conhecidas que aumentam os dividendos pagos há mais de 50 anos sem interrupção:
Já no Brasil, a Infomoney compilou uma lista com boas opções para 2018, mas nada que chegue perto do histórico das empresas citadas acima – confira.
Além disso o site Fundamentus lista todas as ações da B3 com os yields atualizados – Confira

Não desanime no começo !

Comprando aos poucos e montando uma carteira de dividendos crescentes na fase de acumulação sem dúvidas é uma ótima estratégia pois além do aumento dos preços dos bons ativos esperado ao longo do tempo, o aumento dos dividendos pagos todo ano e o reinvestimento dos mesmos comprando mais ações com o dinheiro pago por eles mesmo turbina os efeitos dos juros compostos.

Muitas pessoas desanimam ao iniciar nesta estratégia pois realmente no início serão centavos ganhos todo mês em dividendos, mas mantendo a estratégia, comprando mais lotes periodicamente, reinvestindo os dividendos acumulados e monitorando a qualidade dos ativos,  ao longo de décadas os centavos se transformarão em milhões.

E você leitor, o que acha desta estratégia? 


31 thoughts on “Como gerar renda passiva de verdade durante a aposentadoria antecipada

  1. Olá AA40,

    Acho que essa estrategia é boa. Como eu pretendo viver de renda e não quero vender ativos para cobrir minhas despesas. Foco em uma carteira de dividendos mesclada com crescimento. Acredito que no futuro colherei bons frutos.

    Abraços.

    1. CI, este é um grande dilema de quem busca FIRE. Gerar renda passiva de verdade ou indexar e vender parte quando precisar. Eu particularmente sigo as duas de alguma forma, assim como vc. abcs

  2. Estou começando meus aportes em Reits nos Eua para tentar obter uma renda extra em dolar. Estou seguindo seu portfolio ai…tem bons reits. Pq vc nao tem FIIs no Brasil?

    1. Fala anon. cara, faça seus estudos hein. Investir em REITs é uma boa ainda mais no momento em que estão bem desvalorizados devido ao aumento dos juros americanos, então tem coisa boa e barata.
      Não tenho FIIs pq como postei anteriormente não posso ter conta em corretora no Brasil por causa do meu contrato de trabalho que proibe entào nao consigo comprar fiis infelizmente.

  3. Olá AA40,
    Não gosto da estratégia de utilizar td para gerar renda passiva. Prefiro os ipca+ sem cupom semestral, pois minimiza tributação. Assim minha renda fixa é uma espécie de seguro.
    Já FIIs/REITs e ações são as melhores formas de gerar renda passiva, lembrando que no Brasil é isento de ir.
    No início é realmente muito difícil, no meu caso que fiz realocação de capital ainda assim custou a apresentar resultados. Nos Eua foi mais rápido por conta da consistência no pagamento de dividendos, mas o yield é mais baixo e o imposto é violento.
    Estou tentando conciliar as diversas fontes de renda.
    Abraço!

    1. Certo JI. Concordo que o TD sem js é melhor mas se vc já está vivendo de renda pode não ser uma má ideia ter um cash flow mesmo abrindo mão de parte do rendimento.
      A estratégia de combinar diversas fontes como vc citou para mim é a melhor, pois além de diversificação temos também exposição a vários graus de risco/retorno. abcs

  4. Olá AA40,

    Muito pertinente este assunto. No meu caso particular, eu possuo PGBL na minha carteira e pretendo fazer resgates/reinvestimentos até o limite de 12% da minha renda bruta tributável. Por exemplo: em 2007 eu coloquei 7K de "dinheiro novo" e receberei uma restituição de 9k que será integralmente reinvestido. E a cada R$ 1000 aportado, receberei R$ 275 na restituição do próximo ano (funciona como um yield de 27,5%).

    A medida que os proventos no exterior tributados a 30% forem aumentando, conseguirei abater estes valores no imposto de renda. Entretanto, estou planejando daqui a uns 13 anos parar de fazer aportes no PGBl e começar a resgatar os recursos com a tributação de 10% de IR no resgate.

    Portanto, no momento que eu começar a usufruir da renda passiva, irei resgatar o PGBL gradativamente com 10% de IR antes de utilizar os proventos dos FIIs e Ações.

    Espero que a minha estratégia esteja coerente. Grande Abraço.

    1. Interessante sua estratégia AF. Eu particularmente nunca prestei muita atenção em previdência privada mas o benefício fiscal no longo prazo é bem interessante. Em qual instituição vc tem esse PGBL?

    2. A seguradora é a Icatu. Os fundos que eu possuo são o Fundo Verde Previdência (Multimercado) e o Credit Agrícola Crédito Privado (Renda Fixa).
      Sugiro a plataforma da XP que permite acesso a uma grande quantidade de fundos

      Grande Abraço

  5. Montar uma carteira de dividendos é uma ótima maneira de viver de renda passiva no futuro, foi isso que Luiz Barsi vez com sucesso!

    Abraço e bons investimentos.

    1. Sim, mas além disso é começar cedo por que no início serão centavos. Somente após bons anos que começa a render frutos de tamanho razoável. Luiz começou a 50 anos atras e hoje é bilionário. Este é o segredo, tempo, perseverança e paciência.

  6. Depois farei um tópico no meu blog sobre minha trajetório de crescimento dos dividendos. Lembro que recebi uns R$ 8,00 reais quando a primeira vez que investi em FII. Meu foco total no inicio é renda passiva para depois começar a diversificar mais em renda fixa e outras coisas. Abraço

    1. Legal Gari. E hoje quanto recebe e depois de quanto tempo? Seria legal ver um gráfico com isto para cada ativo. Quando postar nao deixe de colocar o link aqui para nós. Abcs

  7. Meus parabéns AA40, um dos melhores posts da finansfera esse ano!!! Você aliás, sempre trazendo conteúdo de muita qualidade. Muito bom mesmo!

    Eu fiquei pensando um momento em como adquiriu tanta experiência se no post anterior estava impedido de investir em ações e FII's, mas suponho que tenha investimentos no exterior ou gerencie uma carteira de algum "amigo" por aqui por debaixo dos panos, hehehe.

    Diferentemente do mimizento do viver de construção que não produz nada de bom e ainda excluí os comentários contrários às idéias dele, os seus conteúdos são infinitamente melhores!

    Outro mimizento que também exclui os comentários contrários é o viver de dividendos, aposto que você poderia fazer posts sobre ações no exterior que seriam muito melhores e mais completos que o dele…

    E mais é claro, sem o mimimi e a exclusão de comentários contrários.

    Meus parabéns AA40.

    1. Muito obrigado Anon. Foram anos de muito estudo, muitos livros e experiência pois já investi em ações/FIIs no passado quando me era permitido. Apenas o atual job nao me permite e ai tenho que estudar mais ainda para poder conseguir bons fundos no mercado restrito que tenho acesso via banco.
      Aprendi muito também nos anos que morei nos EUA também. Não faço nem recomendo fazer nada por baixo dos panos hehehe é só para dar confusão.
      Quanto aos mimimis, creio que é normal mas cada blog é diferente quanto a isto. Aqui procuro só barrar ofensas e calúnias sem fundamento. Abraço e volte sempre

  8. Ja faz tempo que estou no FIRE. Eu invisto em açoes americanas e titulos brasileiros. Sempre fui um investidor de "Total Return" em vez de "Yield" nas açoes americanas, com foco na valorizaçao do preço ("Growth" strategy). Foco excessivo no Yield, tanto em RV quanto em RF no meu ver muitas vezes poderia criar problemas (qualidade de ativos, etc). Vale lembrar que no *inicio* de 2008 a sua lista destas empresas americanas otimas pagadoras de dividendos foi bem mais longa, muitos na epoca cortaram parcial ou completamente, causando grandes problemas para pessoas com uma dependencia nesses pagamentos. Eu nao vejo problema algum em realizar ganhos de capital nesta fase agora de distribuiçao. Eh 'passivo' o suficiente. Nos EUA o imposto sobre o ganho eh 15%, e completamente compensavel aqui. Na fase de acumulaçao sempre reinvesti os dividendos, agora nao, cai no fluxo de caixa.

    1. Você tem muita razão Anon. Não podemos só caçar Yield sem olhar a saúde da empresa como um todo e o payout. Por isso sou a favor do DG (dividend growth) e não apenas yield. Identificar empresas e reits com histórico longo de aumento anual de pgto de dividendos. Com esta lista tem que buscar as com menor payout e maior saúde financeira. Ao menos este é meu método.
      Muito boa sua estratégia; reinvestir os dividendos na fase de acumulação vai turbinar seus ganhos. abcs

  9. Olá AA40!

    Hoje estou focando no aumento de renda passiva da minha carteira, seja com FIIs ou com ações que paguem bons dividendos. A ideia é fazer a bola de neve conforme você conta no post, recebendo e reinvestindo. Soma-se com os aportes e temos um turbo formado hehe

    As ações de crescimento vou estudar melhor. Estou verificando como algumas se saíram e se preciso vou rebalancear.

    Abraço

    1. Show II. No Brasil é dificil de montar uma carteira DG (Dividend growth) por falta de historico das empresas. Como citei no texto, nos EUA temos empresas que aumentam os dividendos pagos todos os anos por mais de 50 anos e não é uma ou duas, são várias. Temos até um etf com elas, o Vanguard Dividend Appreciation ETF (VIG)

    2. Sim, nem se compara. Só observe que nem todas as aristocrats são DG (dividend growth)ou seja, nem todas tem histórico de aumentar o pagamento de dividendos todos os anos. abcs

    3. Olá AA40 e II,

      Ótimo post!

      Só um adendo.

      Por definição, as ações Dividend Aristocrats precisam pertencer ao S&P 500 e aumentar os dividendos todos os anos por 25 anos ou mais.

      Abçs!

  10. Gostaria de ter descoberto FIIs antes, acho que se as ETFs são o pilar da comunidade FIRE nos EUA aqui no Brasil FIIs e Tesouro deveriam ser os nossos pilares. Concentrei de mais em TD influenciado pelos magos da IF brasileira como o Viver de Renda e fechei os olhos para os FIIs.

    Sr. IF365

    Blog IF365 | Acompanhe meus últimos 365 dias antes da IF e Aposentadoria Antecipada
    https://srif365.wixsite.com/if365

    1. Verdade SR. FIIs são ótimos para gerar renda, só não podemos esquecer que são renda variável então tem que ter ótimos critérios de escolha e aguentar perdas inerentes já que são muito sensíveis as taxas de juros. De qualquer forma vale a velha máxima: Diversificação.

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