Sua carteira está tão diversificada quanto você acha? Veja como saber

Lemos e ouvimos diariamente sobre a importância da diversificação. Para muitos investidores, diversificação significa ter uma monte de ativos aleatórios na carteira. Mas diversificação é muito mais do que isto:

A diversificação é uma estratégia de gerenciamento de risco que combina uma ampla variedade de investimentos em um portfólio. Uma carteira diversificada contém uma mistura de tipos distintos de ativos e veículos de investimento em uma tentativa de limitar a exposição a qualquer ativo ou risco único. A lógica por trás dessa técnica é que uma carteira construída com diferentes tipos de ativos irá, em média, gerar retornos de longo prazo mais altos e reduzir o risco de qualquer título individual ou título.

Como medimos a diversificação?

Mas na verdade a diversificação em sua definição pura é muito abstrata e uma característica qualitativa. Como saber se a sua carteira está diversificada? Ou como montar uma carteira diversificada? Medindo a correlação entre os ativos:

A Correlação entre os Ativos

A correlação de ativos é uma medida de como os investimentos se movem em relação uns aos outros e, em essência, o quão diversos eles são em relação a eles mesmos. Quando os ativos se movem na mesma direção ao mesmo tempo, eles são considerados positivamente correlacionados. Quando um ativo tende a subir quando o outro desce, os dois ativos são considerados negativamente correlacionados. Ativos que não mostram qualquer relacionamento entre si, não são correlacionados.

Uma correlação de 0 (zero) significa que os retornos dos ativos são completamente não correlacionados. Se dois ativos são considerados não correlacionados, o movimento do preço de um ativo não tem efeito sobre o movimento do preço do outro ativo.

Sabemos que pela teoria moderna de portfólios, você pode reduzir o risco geral em uma carteira de investimento e até mesmo aumentar seus retornos gerais investindo em combinações de ativos que não estão correlacionadas.

Se houver uma correlação de zero, então não há correlação e a direção de um ativo não determina o movimento de outro ativo. Se houver uma correlação negativa, um ativo aumentará quando o outro diminuirá e vice-versa.

A correlação varia entre -1 e +1, sendo geralmente:

Correlação deSignificadoInterpretação
0,5 a 1Alta correlação positivaAtivos variam de forma muito similar
0,2 a 0,5Média correlação positivaVariações similares em boa parte do tempo
-0,2 a +0,2Neutro/ Sem correlaçãoVariações não dependentes
-0,2 a -0,5Média correlação negativaVariações opostas em boa parte do tempo
-0,5 a -1Alta correlação negativaVariações opostas quase sempre

Ao possuir ativos com uma gama ampla de correlações entre si, você pode manter um sucesso relativo no mercado – sem as oscilações bruscas que possuir apenas um tipo de ativo leva. Quando um classe de ativo tem um bom desempenho, seus ganhos podem não ser tão altos quanto daqueles que estão investidos somente naquela classe de ativo, mas suas perdas não serão tão extremas se esse mesmo ativo começar a sofrer perdas grandes.

A correlação muda com o tempo

Embora os títulos públicos tivessem uma correlação negativa de certa forma confiável em relação as ações, essa correlação está cada vez mais positiva neste século, ou seja, a probabilidade do preço da renda fixa cair junto com o mercado de ações está maior, porém historicamente isto não é verdade. A probabilidade dos bonds de longo prazo continuarem a se comportar inversamente ao mercado acionário é muito alta, mas exceções ocorrem de tempos em tempos.

Da mesma forma, as ações mundo afora são agora mais impactadas pelo mercado de ações dos EUA. A maioria das empresas são hoje globais e não estão isolados um determinado país ou região.

Como verificar a correlação entre ativos?

Calcular manualmente a correlação entre ativos requer certo trabalho e uma fonte extensa de dados. Felizmente existem ferramentas que fazem isto para o investidor, principalmente nos EUA.

-Portfolio Visualizer: Basta entrar com os tickers de suas ações ou ETFs americanos aqui e ele te mostra a correlação entre eles. Veja um exemplo de uma carteira all seasons

O mesmo site acima ainda mantem uma matriz de correlação atualizada das principais classes de ativos:

-Calculando no Excel: Veja aqui como calcular no ExcelCorrelation Formula | How To Calculate Correlation? (educba.com). Um grupo do reddit elaborou uma planilha para calcular a correlação de alguns ativos do IBOV, faça uma cópia aqui e atualize os dados.

Algums gráficos de correlação de ativos

Veja como a correlação entre o S&P500 e o mercado brasileiro (EWZ) é muito alta. Veja como a correlação entre o VTI total market americano com os bonds de longo prazo TLT são muito negativas e inversas. Quando o mercado de ações cai, praticamente sempre os bonds longos sobem de preço, algo é que é ótimo para rebalancear comprando mais VTI na baixa com recursos do TLT.

Mas por que queremos ter ativos não correlacionados em carteira?

Para diminuirmos a volatilidade e consequentemente os sustos e a possibilidade do nosso psicológico nos trair e vendermos nos piores momentos do mercado. Veja uma simulação de longo prazo de uma carteira 100% renda variável e outra 60% RV e 40% em renda fixa de longo prazo que é um dos ativos mais inversamente correlacionado com o mercado de ações americano.

Veja acima, com menos de 1%aa de rendimento a menos, temos uma grande diminuição da volatilidade. No pior ano temos uma queda máxima de mais de 37% enquanto na carteira com ativos inversamente correlacionados rebalanceada anualmente temos apenas 13% de queda. O drawdown máximo, que é a diferença de pico ao fundo, fica evidente a suavização das quedas, de 50% para menos de 27%. O índice de sharpe também aumenta muito. Quanto maior o sharpe, maior o retorno com menor volatilidade.

Mas o que isto significa? Quanto menor o Drawdown, menor a volatilidade e muito maior pode ser a TSR (Taxa Segura de Retirada) que podemos usar. Além do risco dos retornos sequenciais diminui muito. Ou seja, você blinda a sua regra dos 4% como muito bem nos explica o IFPop aqui.

Correlação entre Bitcoin e S&P500?

Para você que está na onda das criptos e está se indagando qual a correlação entre o BTC e o S&P5000 por exemplo, veja o que diz a ambcrypto:

A correlação que o Bitcoin e o S&P 500 compartilham testemunhou um aumento maciço desde meados de agosto de 2021. Conforme observado no gráfico de Skew, a correlação entre o maior ativo do mercado cripto (o BTC) e o índice de ações mais proeminente do mercado americano oscila muito, mas tem mantido uma média correlação positiva, o que significa que quando um cair, é muito provável que o outro caia, algo que não é comum no mercado de bonds (RF) por exemplo.

The correlation that Bitcoin and the S&P 500 share has witnessed a massive upsurge since mid-August. As observed from Skew’s chart attached, the crypto market’s largest asset and the the U.S. stock market’s most prominent equity index shared a highly negative mutuality during mid-August [as low as -21% on 16 August]. However, the same has been hovering in the positive territory [35%-50% range] of late.
The correlation Bitcoin and the S&P 500 – Fonte: Skew/ambcrypto.com

23 thoughts on “Sua carteira está tão diversificada quanto você acha? Veja como saber

  1. Não tinha idea que tem como calcular e otimizar isto. O povo não tem muita noção, vai na onda do precisa diversificar mas compra um monte de porcaria e coloca na carteira e acha que tá diversificado. Este post é ótimo para mostrar o que a diversificação. Parabéns pelo post AA40. Quando vai começar seu podcast?

    1. Verdade. Warren Buffet e outros poucos são cisnes negros positivos. Centenas de milhares de outros investidores não obtiveram performance melhor que o S&P em janelas longas de tempo. Melhor indexar em etfs de ações e fundos de renda fixa de duration curta. Rebalancear a carteira a cada grande oscilação, vai ajudar a comprar ativos na baixa. Esqueça proteções como ouro e dólar, faça o simples e os resultados serão muito bons.

      1. Esta é exatamente a questão. Parecer diversificada a “olho nú” só pelo número de ativos na carteira é uma coisa, saber a correlação entre eles é outra. Se os 50 forem correlacionados eles podem cair todos juntos em uma crise sistemática de mercado.
        Abcs

        1. Quis dizer no caso da Berkshire. O velhinho diz que diversificação é para quem não sabe o que faz mas a carteira dele é concentrada?

  2. Ao longo dos meus anos como investidor aprendi que, durante as grandes crises, as correlações esperadas entre os ativos acabam distorcidas, portanto não oferecem a proteção esperada. Nesse sentido, mantenho boa parcela dos recursos em renda fixa de curta duração, algo similar ao índice imab-5 que funciona como reserva de oportunidade para comprar ações na baixa e ao mesmo tempo amortecedor dos impactos na carteira de ações. Vejam que uma carteira de títulos similar ao imab-5 teve um desempenho muito superior à inflação e ao cdi nos últimos 10 anos e até mesmo o ibovespa.

      1. Vc fez um backtest. Para investimentos no exterior. Estou falando de renda fixa no Brasil, indexar aos títulos públicos de duração até 5 anos. como referência, o imab5 desde a sua publicação, acho que são 21 anos, rendeu 13% ao ano. O imab os mesmos 13% e o imab5+ , 15% ano ano. Veja que o retorno do ibovespa ficou muito abaixo desses números. Claro que a moeda perdeu poder de compra frente ao dólar, mas um bom etf de ações no exterior já protege a carteira em dólar. Abs

      2. muito bom conteudo aa40, poderia nos informar aprox sua carteira pra termos uma ideia melhor, outra coisa que nao achei muito nos blogs fire é criptoativos

        1. Legal anon. Minha carteira não poderia ser mais simples. No Brasil 60% RF (CDB, TD), 40% RV (PIBB11). Nos EUA, 10% Small Caps, 65% VTI/ITOT e 25% IUSB/BND.
          Algumas ações em uma carteira de dividendos que não chega a 10% do total do patrimônio.

          Me anima que você não achou muito sobre criptos em blogs FIRE. A filosofia FIRE é a de simplificar e indexar ao máximo. Criptos ao meu ver tem no máximo 5% de espaço em uma carteira FIRE mas a maioria como MMM, JLCollins e muitos outros falam em ficar longe deles a não ser para brincar e aprender e é isto que eu faço e recomendo. Abcs
          Quando um cara com a experiencia do Munger e Buffet falam, temos que escutar, de forma que concordo com a opinião dele

        2. Boa tarde AA40 e com esta carteira, seria possível aplicar a TRS de uns 3% ao ano e manter o capital atualizado da inflação ao longo do tempo?

  3. Para quem está no início da jornada, vale a pena alocar 100% em ações, pois como vimos acima, a diferença final de dinheiro no portfólio foi muito significativa. Lá pelo meio da jornada, talvez valha a pena 20/80 e no final 40/60.
    Não tem porque investir em Rf, principalmente fora do Brasil aos 20 anos de idade. Fica muito dinheiro na mesa

    1. Isso mesmo anon. Para quem investe e mora no Brasil acho que não faz sentido ter renda fixa no exterior devido a inflação.
      Agora é preciso ter estômago para aguentar 100% em RV. Se bater o pânico e vender na crise (coisa praticamente permanente no Brasil), ai é que ficará muito mais dinheiro na mesa. Eu jamais teria 100% RV pq uso a RF como buffer e capital de oportunidades. Se tenho 100% RV não tem como aproveitar as quedas bruscas para comprar barato. Abcs

  4. E ai AA40, será que vc tem o link do tal grupo do reddit que fez a planilha de correlacao ? Baixei ela e brinquei um pouco. Ela tá muito loca. Coloco ativos a e b, vejo a correlacao. Adiciono o ativo c, a correlacao entre a e b muda. WTF. Mais facil olhar no grafico.

  5. Também não adianta ter 50 ativos de um mesmo setor ou natureza. Claro que tudo depende do perfil do investidor! Eu procuro alocar 20% caixa, 25% fiis, 25% tesouro direto, 25% dividendos e 5% alto risco… Sei que como funcionária da União há 15 anos, com estabilidade, posso me dar ao luxo de fazer coisas diferentes, ter menos capital em caixa por exemplo, etc… O mais importante é ter uma estratégia que funcione pra você ao alocar o capital… Muito boa a postagem, AA40!

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