Oficial: A regra dos 4% agora é a regra dos 3,3%? Não, ainda não !

Você provavelmente tenha ouvido falar da Morningstar: Morningstar é uma fonte respeitada e confiável de análise de investimento independente para todos os níveis de investidores em fundos e ações, desde iniciantes inexperientes a especialistas sofisticados.

Em um estudo publicado ontem (11/11/2021), eles confirmaram o que a maioria dos planejadores financeiros americanos já vinham falando há algum tempo (e como o BIG ERN já simulou aqui) que a regra dos 4% já é arriscada demais para ser confiável. Segundo eles, usando estimativas de retorno futuro de renda fixa e variável, além da inflação, a Morningstar estima que a popular regra dos 4% deve ser reduzido para 3,3%.

Por exemplo, usando a regra dos 4%, um investidor poderia sacar $40.000 de uma carteira de $ 1 milhão no primeiro ano de aposentadoria. No entanto, usando a regra dos 3,3%, a retirada do primeiro ano cai para $ 33.000.

Para calcular o quanto de patrimônio investido é preciso com a nova regra, basta multiplicar o seu custo médio mensal dos últimos 12 meses por aproximadamente 363, ao invés dos 300 da regra dos 4% tradicional.

Exemplo. se seu gasto médio mensal é de R$ 4,500, pela regra dos 4% é preciso ter R$ 1,350,000, já pela regra dos 3,3% serie preciso R$ 1,636,363.

Por que 3,3%?

Os aposentados e investidores têm desfrutado de três desenvolvimentos positivos do mercado nas últimas décadas, de acordo com Christine Benz, diretora de finanças pessoais e planejamento de aposentadoria da Morningstar e coautora do novo relatório.

Nos EUA, a baixa inflação, o baixo rendimento (yield) dos bonds (que impulsionaram os preços dos títulos) e os fortes retornos das ações ajudaram a impulsionar as carteiras de investimento e as taxas de retirada seguras, disse ela.

Esta dinâmica tem alimentado os FIREs e quase aposentados com uma falsa sensação de segurança, disse Benz.

É altamente improvável que os títulos públicos desfrutem de fortes ganhos nos próximos 30 anos, e os altos preços das ações provavelmente cairão à medida que voltarem à média, de acordo com o relatório, além da inflação que já está aumentando consistentemente*. A análise admite que esse resultado é provável, mas não certo.

(*Embora a inflação tenha sido historicamente alta nos últimos meses, a Morningstar espera que ela seja moderada no longo prazo.)

Os retornos do investimento são especialmente importantes nos primeiros anos de aposentadoria devido ao chamado risco de sequência de retornos. Usar uma retirada muito grande da carteira no primeiro ano ou anos – especialmente de uma carteira que está diminuindo de valor ao mesmo tempo – pode aumentar muito o risco de ficar sem dinheiro mais tarde, isso porque há menos espaço para o crescimento do portfólio quando os investimentos se recuperam.

Observações

Os pesquisadores ressaltam que estes resultados consideram apenas os investimentos do portfólio. Não levam em consideração as fontes de renda que não são de mercado, como a Previdência Social ou pensões. A regra assume que os gastos de uma pessoa não se ajustam de acordo com as condições do mercado. Mas isso pode não ser uma suposição justa – a pesquisa mostra que os idosos geralmente ajustam seus gastos durante crises.

Outra recomendação é que os aposentados (ou FIRES) não reajuste pela inflação as retiradas nos anos em que o retorno da carteira for negativo.

“Existem alguns ajustes simples que você pode fazer”, disse Benz. “Não precisa ser uma estratégia rígida; pode ser uma série de ajustes incrementais que no final podem fazer a diferença. ”

Artigo na íntegra

Para baixar o artigo na íntegra em PDF clique no link abaixo: https://www.morningstar.com/content/dam/marketing/shared/pdfs/Research/state-of-retirement-income.pdf

Conclusões principais

Os baixos rendimentos dos bonds atualmente e os altos valuations das ações tornam improvável uma carteira sustentar as TSR do passado.
× Usando premissas conservadoras, nossa pesquisa (MorningStar) conclui que uma carteira de 50% de ações / 50% de títulos de renda fixa deve suportar uma taxa de retirada real fixa inicial de cerca de 3,3% ao ano.
× Ao relaxar essas suposições ou adotar uma abordagem de gastos mais flexível, nossa análise encontra cenários que podem sustentar retiradas mais altas com segurança, como uma taxa de retirada real inicial de 4,5% sendo possível em alguns cenários.
× Alocações maiores em renda variável tendem a suportar taxas de retirada vitalícias mais altas quando usadas com métodos de gastos flexíveis, refletindo os benefícios que a valorização do mercado de ações pode conferir, bem como o reequilíbrio do “Dividendos” que as abordagens de gastos flexíveis podem render na forma como ajustam os gastos às mudanças condições de mercado.
× Dito isso, os aposentados não precisam necessariamente acumular mais em renda variável para conseguir uma taxa de retirada inicial maior. Uma abordagem de gasto flexível, com alocações equilibradas pode ser mais seguro.

A regra dos 4% está morta? Não tão rápido !

Michael Kitces, um dos maiores planejadores financeiros dos EUA discorda bastante da conclusão da Morningstart. Veja alguns de seus argumentos:

Dessa forma, a escolha da Morningstar de focar em retornos (historicamente baixos) de 30 anos para sua análise desconsidera a evidência do que realmente impulsiona as taxas de retirada seguras, que é a sequência de retornos. Porque os períodos que testaram a regra dos 4% no passado não foram necessariamente aqueles com os piores retornos de 30 anos, mas aqueles cujos retornos nos primeiros 10-15 anos foram tão ruins que os aposentados precisaram retirar muito de sua carteira para ser capaz de se recuperar assim que as condições melhorarem. Portanto, na realidade, os resultados da Morningstar podem ter sido mais realistas se eles tivessem previsto apenas retornos de 15 anos em vez de 30 anos, já que o período de 15 anos é mais fácil de prever com base nos dados atuais do mercado e mais preditivo de taxas de retirada seguras.

Portanto, por enquanto, embora as avaliações de ações e os rendimentos de títulos de hoje sugiram que é preciso cautela ao fazer recomendações de retirada para aposentados… em vez disso, é precisamente para isso que a regra dos 4% foi feita em primeiro lugar!

Ler o resto deste artigo do Kitces

O próprio criador da Regra dos 4% discordou do artigo da Morningstar. William Bengen diz que a Morningstar usou 50 anos de projeção de retornos abaixo da média, não leva em consideração a reversão a média do mercado e portanto, as projeções foram exageradamente pessimistas e provavelmente não realistas, tanto que Bengen aumentou sua própria projeção para uma TSR de 4,7% como sustentável por 30 anos.

https://www.advisorperspectives.com/articles/2021/11/29/is-it-now-the-3-3-rule

Quer ler mais sobre a Taxa Segura de Retirada para o Brasil? Confira nossa série especial que acompanha a TSR por aqui

Fontes: Morningstar e CNBC

11 thoughts on “Oficial: A regra dos 4% agora é a regra dos 3,3%? Não, ainda não !

    1. Boa pergunta anon. Acredito que 4% ainda seja viável no Brasil, dependendo de como você investe. O problema é que em tempos de inflação alta, que no Brasil é regra e não exceção, você dificilmente consegue bons retornos reais (acima da inflação).
      Se você olhar para seu histórico e consistentemente tiver retornos acima da inflação na ordem de 4%, tudo bem. Eu sou um pouco mais conservador e não consigo tudo isso com consistência portanto estou sim alterando meu plano FIRE pessoal para considerar 3,3%, também por que atualmente estou com grande parte do patrimônio investido nos EUA.
      Abcs AA40

  1. Bom dia AA40! Uso 3% como referência, mas acho que pro Brasil podemos tranquilamente continuar usando os 4%…Hoje em dia é fácil conseguir taxas na RF que garantam IPCA+4% líquido por aí em LCIs, DEB e até CDBs e TD….
    Grande abraço!
    VVI – vvibr.blogspot.com

    1. Olá VVI. Verdade. Eu também estou me baseando numa TSR de 3,3% seguindo já as análises feitas pelo BIG ERN. Sou mais conservador e invisto bastante nos EUA em RV. Fosse só no Brasil com certeza hoje a renda fixa está pagando bons juros acima da inflação, na casa dos 5,3%aa, o que líquidos dá cerca de 4%aa. O problema é a diversificação que precisamos fazer e a renda variável logicamente oscila e, muitas vezes, acaba mandando a performance da carteira para baixo, como é o caso deste ano no Brasil.
      Abcs

  2. Fala AA40!

    Obrigado por compartilhar o estudo!

    Vou fazer algumas ponderações quanto à viabilidade dos 4% como TR.

    Acho muito importante as pessoas sacarem a importância de permanecerem flexíveis no período de desacumulação. E justamente por isso ainda acho 4% uma referência muito conservadora.

    Ou seja, por mais que o cenário atual talvez seja menos favorável que a maior parte dos períodos simulados nos estudos de Bengen e os vários estudos Trinity, eu ainda acho que, no “mundo real”, 4% é extremamente conservador pra quem tem uma macroalocação entre 50% e 75% em renda variável (principalmente se for indexado/passivo).

    Por quê?

    1. Os estudos clássicos ajustam friamente a taxa inicial de 4% de acordo com a inflação. Na vida real um aposentado tem muito mais flexibilidade que um “não aposentado” de reduzir o seu custo de vida e dificilmente ajustaria sua taxa de retirada de acordo com a inflação ano a ano mesmo tendo retornos negativos. Existem várias formas de contornar esses poucos cenários de retornos sequenciais negativos nos primeiros 5 anos, mas a forma mais fácil seria adotar 4% do valor corrente do portfólio. No longo prazo a pessoa acaba podendo ajustar a renda muito acima da inflação, por ter esperado os momentos mais oportunos para fazê-lo.

    2. O CPI aqui nos EUA ou o IPCA no Brasil é apenas uma média e não atinge as pessoas da mesma forma. Aqui nos estados Unidos, por exemplo, a inflação que está historicamente alta impactou principalmente os preços dos combustíveis, automóveis, etc… a inflação pessoal de um aposentado que não precisa comprar um carro ou dirigir para o trabalho diariamente será certamente diferente desse índice de inflação genérico.

    3. Os estudos nunca consideraram nenhuma renda extra proveniente de trabalho. É muito difícil que alguém foda o suficiente para acumular 300X o custo de vida mensal antes dos 40 vai conseguir a façanha que não fazer mais nenhum centavo de renda ativa pro resto da vida.

    4. Os estudos não consideram nenhuma renda previdenciária. Embora os benefícios previdenciários tendam a ser cada vez menores por uma questão de equilíbrio atuarial, eles continuarão existindo de alguma forma. E quem trabalhou é obrigado a contribuir no brasil. Portanto muito provavelmente terá direito a alguma coisa.

    5. Os estudos não consideram nenhuma herança. A maioria das pessoas acabam herdando alguma coisa dos pais, mesmo que pouco…

    6. Por mais que essas pequenas diferenças entre estudos extremamente rígidos e a vida real sejam pequenas, qualquer flexibilidade, renda extra (recorrente ou pontual) adiciona uma margem de segurança brutal nessas simulações (já que o efeito da margem de segurança também tende a ser exponencial).

    7. Os estudos adotam uma taxa de retirada única anual. Pensa vc tendo que retirar o dinheiro que vai precisar pro ano todo bem no meio de uma pandemia. Quem faria isso? Por que não tirar 0,3333% ao mês, que daria os 4% ao ano e diluir um pouco esse risco dos ruídos de curto prazo?

    Enfim, quem pretendia adotar 4% como REGRA, talvez seja melhor ajustar pra 3,3% mesmo. Mas quem pretende adotar 4% como REFERÊNCIA e está disposto a ser flexível e fazer ajustes pontuais ao longo do caminho, tá suave na nave! Kkkk
    Vai ajustar sua renda bem acima da inflação no longo prazo, nos momentos que o senhor mercado mandar!
    E ainda vai dar um banho de “retorno total” em quem pretende focar em dividendos pra “preservar o principal”!

    Humilde opinião de um anônimo na internet…

    Um abraço e sucesso pra ti!

    1. Excelentes ponderações do Ifologo e excelente artigo do AA40, obrigado por trazerem à tona.
      Por isso que acho que o lean Fire é complicado, já que ter flexibilidade quando você já está na risca do lápis é bem mais difícil do que abaixar um padrão de vida médio-alto.
      Abraços

  3. A taxa 4% sempre foi algo conservador baseado em longo prazo pra cobrir até tempos ruins na economia. As pessoas fazem planos e economias de decadas buscando um objetivo la na frente e no meio do caminho mudam? fico imaginando um cara que ta a 20 anos juntando dinheiro esperando se aposentar em 15 anos, e agora descobre que vai levar mais 25 anos na verdade.

    Acredito que isso enfraquece o movimento um pouco. quem garante que daqui a pouco nao vai virar 2%? e depois 1%?

    eu tenho minha convicções e continuarei juntando, mas digo tudo isso pelo espectro de quem ve de fora e fica cada vez mais cético.

    1. Interessante seu ponto Anon. Realmente é complicado o sujeito entrar agora e descobrir isso. Acredito que quem está começando hoje precisa sim ser um pouco mais cauteloso, afinal as últimas decadas foram de bull market (ao menos fora do Brasil), agora quem já está na jornada há alguns anos, não vejo que precisa mudar muita coisa.
      Eu na verdade simulei minhas metas e vou usar uma PWR ao invés de uma TSR. Uma PWR é a taxa perpétua de saque que mantém o principal corrigido como falei em outro post, PWR de 3.7%aa que minha simulação me fornece. Além disso vou tentar minimizar o drawdown nos primeiros 5 anos, obtendo alguma renda extra esporádica como consultor na minha área se surgir alguma coisa. Ninguém que vira FIRE aos 40 e poucos vai parar completamente para sempre, haverão inúmeras oportunidades de ganhar uma renda extra mesmo sem trabalhar convencionalmente.

      Estou bolando uma metodologia de ajustes da TSR para quem já é FIRE e vou postar daqui um tempo. Ela utiliza “guardrails” que evitam que vc tenha uma TSR muito alta ou muito baixa de acordo com o mercado e seus gastos.

      Abcs

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