Para quem leu um dos melhores livros de investimentos já escritos, o The little book of common sense Investing (traduzido para O Investidor de Bom Senso no Brasil), de Jack Bogle, pode ter passado batido pela página 224 em que ele cita o que ficou conhecido na área de investimentos como o princípio da macro alocação:
94% da diferença ente retornos de carteiras é explicado simplesmente pela alocação de ativos
Jack Bogle, The little book of common sense investing, edição atualizada 2017
Como ele comenta, o próprio Benjamin Graham (autor de o O investidor inteligente e um dos maiores investidores de seu tempo) acreditava que a primeira decisão de qualquer investidor deveria ser sua alocação macro de ativos, o que, pelo principio da simplicidade, determinar a alocação entre Renda Fixa (Bonds, títulos) e Renda Variável (Stock, ações).
Para Graham, esta decisão estratégica é a mais importante da vida do investidor. Ele próprio investia 50/50. Posteriormente diversos estudos, inclusive um citado por Bogle de 1986 comprovou os 94% citados acima, ficando evidente que a decisão de quanto alocar em cada classe de ativo é muito mais importante do que qual fundo escolher, quando comprar e quando vender.
Bogle comenta também as diferenças entre os mundos de 1949 e 2017 (ano da publicação) em termos de yield dos bonds e ações, dizendo que 50/50 hoje em dia é bastante conservador, sendo que a alocação máxima que ele recomenda para ações e renda variável nunca deve ser superior a 80% da carteira e nunca inferior a 25%, sendo que:
- Pessoas no Início da fase de acumulação: 80% RV / 20% RF
- Indivíduos no Final da fase de acumulação: 70/30
- FIREEs ou começando a fase de distribuição: 60/40
- FIREEs ou já avançado na fase de distribuição: 50/50
Como decidir a sua macro-alocação?
De acordo com Jack Bogle, existem dois fatores fundamentais que determinam a sua alocação entre renda fixa e renda variável.
- Possibilidade de tomar risco: Isto depende da sua posição financeira, necessidade de capital, dívidas e projetos futuros, e idade. Quando mais prazo você tem para ficar investido, maior o risco que pode ser tomado.
- Vontade de arriscar: Este fator é puramente preferência e de perfil. Alguns investidores conseguem lidar bem com uma queda de 60% da carteira, outros jamais iriam dormir ou venderiam.
Os dois fatores juntos formam sua tolerância ao risco !
Bogle porém cita que a alocação de ativos não é uma ciência exata e que para um investidor indeciso (aquele que as vezes acha que tem muito risco e logo depois acha que precisa se expor mais) comece com o mais simples possível, assim como Graham, 50% em RF e 50% em RV, e vá se conhecendo e testando aos poucos limitado a um range de 75/25 e 25/75. Quando não conseguir dormir bem a noite depois de uma queda brusca, é por que o risco está mais alto do que o tolerado.
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Bônus: O que fazer durante um bear market?
O que fazer durante um mercado em baixa?
- Mantenha a calma e minimize as notícias.
- Atenha-se à sua alocação de ativos e rebalanceie uma ou duas vezes por ano.
- Continue investindo. Invista ainda mais se puder.
- Aprenda a gostar dos bear markets pois são eles que te deixarão rico!
Bom dia AA40! Realmente os pontos mais importantes de decisão estão nas coisas mais simples e não nas mais complexas. Temos sempre a tendência de ir diretamente para a parte detalhada (escolha de ativos, técnica de Rebalanceamento, montagem estratégica de carteira, etc) antes de definir o básico. É sempre bom respirar fundo e revisitar o simples pra tentar colocar o pé no chão novamente. Gostei! Grande abraço!
Isto. Muitos ficam insistindo em detalhes, market timing, estratégias mirabolantes, gráficos e esquecem que praticamente só o que importa é a macro alocação da carteira. Manter as coisas simples é sempre mais eficiente. Grande Abc