A China caminha a passos largos para ser a maior potência global em breve, mas a que custo? Os jovens chineses estão se rebelando contra essa sociedade por meio de um simples ato de resistência: deitar-se.
A frase “tang ping” – “deitado” – se espalhou pela internet na China no ano passado. O slogan invoca o abandono da corrida dos ratos e fazer o mínimo necessário para sobreviver, e reflete o desejo de um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal diante do crescimento a todo custo. Exemplos do estilo de vida tang ping, ou “deitado no chão”, incluem não se casar, não ter filhos, não comprar uma casa ou um carro e se recusar a trabalhar horas extras ou a manter um emprego. Alguma similaridade com a filosofia FIRE?
“Fico em casa, durmo e assisto séries de televisão. Às vezes saio para passear, leio livros e penso muito”, disse Daisy Zhang, 28, que se descreveu como “deitada” nas últimas duas semanas depois de deixar seu emprego na indústria cinematográfica em Wuxi, na província chinesa de Jiangsu.
O Tang ping emergiu nos últimos meses como o apelo dos millennials chineses que se cansaram da corrida dos ratos. Alguns os comparam com a geração dos anos 1950 nos Estados Unidos. Outros chamam seu comportamento de uma forma de resistência não violenta ou “emancipação ideológica” do consumismo. Os defensores retratam isso como uma rejeição da luta e do esforço sem fim. Alguns críticos dizem que é uma atitude derrotista.
Em última análise, dizem os observadores, o Tang Ping é um reflexo da classe média desencantada da China e de diversos outros países, confrontada com salários estagnados em cidades cada vez mais caras e competitivas. Mesmo no Brasil, temos milhões pessoas que não conseguem mais comprar uma casa nem DENTRO DE UMA FAVELA.
-O que fazer quando chegamos a este nível? No Brasil temos o equivalente, a geração Nem-Nem, nem estuda, nem trabalha.
“As pessoas percebem que não há mobilidade social mais”, disse Yicheng Wang, estudante de doutorado em ciência política. “É uma aceitação negativa: ‘Minha vida é assim. Sempre será assim.” Logicamente o governo não está nada contente com esta atitude, onde na verdade é o maior culpado por isso.
Bai Lan: Deixa apodrecer. “Porco morto não tem medo de água fervendo”
O termo chinês bai lan significa uma desistência voluntária de perseguir certos objetivos porque se percebe que eles são simplesmente muito difíceis de alcançar.
À medida que a situação do desemprego continua a piorar na maioria dos países, China inclusive, muitos jovens adotaram um bordão ainda mais fatalista: “bai lan”, traduzido como “let it rot – deixe apodrecer”.
Bai lan tem uma camada mais preocupante na forma como está sendo usado pelos jovens na China: abraçar ativamente uma situação em deterioração, em vez de tentar reverter a situação. É semelhante a outras frases chinesas, por exemplo, “esmagar uma panela rachada” (破罐破摔) e “porcos mortos não têm medo de água fervente” (死猪不怕开水烫).
“Ao contrário da geração dos meus pais, os jovens chineses de hoje têm expectativas e pressões muito maiores, mas também há muito mais incertezas para nós. Por exemplo, não podemos mais fazer planos de longo prazo para nossas vidas, porque não sabemos o que vai acontecer conosco daqui a cinco anos”. – Sal Hang, 29 anos
“Meu chefe sempre define metas irreais para mim. Mas por mais que eu tente cumprir meus KPIs, sempre falho. Então, no final, eu perco minha motivação e apenas faço o meu mínimo.” Além disso muitos não casam, não procuram romance puramente por questão financeira, se tornando solitários, depressivos, tristes e patéticos.
E existem milhões de pessoas graduando todos os anos na China, todos querendo ser melhor do que os outros. Onde isto vai parar? Sempre haverá alguém que ficará para trás e sairá perdendo. Bai lan é isto, ser voluntário para sair da corrida dos ratos.
E você, já sentiu que todo o esforço e expectativas colocados sobre você é exagerado e não vale a pena? Para ser FIRE precisamos do sistema, mas temos que ficar nele o mínimo de tempo possível para ele não acabar conosco. Comente:
Acredito que em tudo temos que colocar limites usando o bom senso, exageros em busca da alta performance ou fazer somente o mínimo necessário são extremos que podemos evitar. Equilíbrio entre o trabalho e o lazer devem nortear nossas vidas, assim conseguiremos ter satisfação em nossas vidas.
Sim, mas isto é meio que utópico na real. Na sociedade de hoje (nem tanto a Brasileira) se vc não estiver dando 150% todo tempo, sempre há aquele dando180% 200% e vai passar por você, pegar seu lugar e isto se torna o novo normal. Em muitos países como EUA, Japão, China tirar férias é uma palavra feia. Quem tira férias é visto como vagabundo e desleixado para com a empresa e a sociedade. Este é o asco do mundo da competição desenfreada que vivemos hj e que está criando zumbis como a geração bai lan! Abcs AA40
Muito interessante ver que mesmo com tantas diferenças culturais no mundo, no fim buscamos e sofremos as mesmas coisas. Isso só corrobora que o o movimento “menos trabalho, mais vida” é mundial. No final o que importa é conseguir alcançar um ponto ótimo de estabilidade entre vida no trabalho e vida fora do trabalho. Grande abraço!
Realmente VVI, sintomas de um mundo insustentável. Abcs
É como eu ja escrevi uma vez no meu blog: o movimento FIRE (e esses movimentos chineses mencionados no post, bem como movimentos semelhantes no Japão e na Coreia do Sul) são alguns dos sintomas de uma sociedade adoecida. O mundo do trabalho sempre foi duro, mas acho que hoje é muito mais difícil e exigente que na época da geração que hoje está comandando as empresas, hoje paga-se menos e trabalha-se mais, e com menos retorno e menos expectativas de crescimento. Para quem pode, o negócio é aportar forte pelo máximo de tempo possível, dizer não ao consumismo, dizer não à cultura da ostentação, viver frugalmente e a cada mês se aposentar um pouquinho, com cada real aportado. Claro, sem o extremismo de desperdiçar a vida trancado num quarto jogando videogame o dia inteiro ou abdicar de todo e qualquer lazer para economizar 20 reais.
Já percebi também que geralmente quem fala mal do movimento FIRE ou é porque é um empresário ou autônomo muito bem sucedido (pra eles o FIRE não faz sentido) ou é porque é um empregado que se acha o “bonzão-trabalhador-incansável-que-nunca-tira-férias-e-produz-24h/7d-sem-descanso-e-tem-brilho-no-olho-e-postura-de-dono-e-aceita-trabalhar-até-meia-noite- -em-troca-de-pizza-fria-e-que-acha-que-feriado-é-coisa-de-vagabundo” (e na internet é fácil ser fodão)
Embora eu pessoalmente não seja FIRE, eu respeito a ideia e acho uma reação válida perante o mundo do trabalho como ele é hoje em dia, especialmente o mundo corporativo.
Não poderia ter escrito melhor. Concordo totalmente Mago.E como tem estes “fodões” por ai nas empresas. Acham que são imortais e melhores do que os outros até se darem conta que se cairem mortos em cima da mesa, amanhã terá outro no seu lugar e tlvz ele mesmo tenha que ligar para a família do morto para virem recolhe-lo.
FIRE é, como bem colocou, também uma reação a tudo isto. Abcs
Interessante. Penso que esse movimento global também está relacionado à questão ESG. Degradamos nosso ambiente em busca constante de lucros crescentes, sempre deixando um grupo excluído e muitas vezes por meios ilegais, imorais e antiéticos. E para que? Para consumir cada vez mais!
Realmente não faz sentido.
Sim Marcelo, ESG total. Essa busca incessável pelo crescimento econômico tem colocado em risco não só o ambiente, mas o social e muitas vezes a governança das empresas tbm (maquiagem financeira, como os buybacks por exemplo).
nao consegui estabelecer uma relaçao com FIRE no texto .
apenas que teremos uma nova leva de mendigos perambulando pelas ruas da China em breve
Corrida dos ratos? rejeição da luta e do esforço sem fim? Mas sim, FIRE para muitos não é sobre parar de trabalhar e sim ser independente financeiramente então até entendo vc. Abcs AA40
AA40 e Mago Economista, como vocês falaram todo extremo é ruim e eu já vivo o outro extremo. Enquanto as pessoas tem que se matar pra dar 150% de si onde trabalham, eu trabalhando no serviço público se fizer 50% já sou chamada de besta, babona e outras coisas. Porque a maioria se fizer 10% ou 20% já fazem reclamando. Essa é uma realidade que ninguém tem coragem de falar. Com o passar dos anos, você acaba sendo engolido pela morosidade. Não porque você queira, mas porque você é meio que obrigado. O dia que resolverem mexer nessa ferida vai ter muita resistência. E se você se pergunta porque falo isso, é pelo fato de me colocar no lugar de quem está sendo atendido pelo colega preguiçoso que acha que tá fazendo um favor. Todo extremo é ruim. Trabalhar demais é ruim, trabalhar nada também é ruim.
Interessante ver o outro lado realmente PC. Isto me lembra de um amigo meu que dava 150% no setor privado. Cansado disso, ele fez concurso e passou e foi para o setor público. Não deu 6 meses e ele pulou fora dizendo exatamente isto, vc é incrivelmente pressionado por todo mundo a dar menos de si. Eles não tem aquela noção que os serviços que estão sendo prestados estão sendo pagos pelo público e eles são seus clientes. Isto é insano se pararmos para pensar. Serviços públicos deveriam ser melhores que os privados pois os clientes deveriam ser mais exigentes mas o povo nao tem a noção de cliente, mas sim de estar recebendo um favor.
Ótimo contraponto PC. Abcs AA40
AA40,
Em que situação chegamos…. fico pensando até onde tudo isso vai.
Somos iludidos praticamente desde o nascimento, mas no final percebemos que as coisas não são exatamente como nos levaram a acreditar.
Espero que essa atitude dos chineses levem o mundo a refletir sobre o assunto, sobre os motivos que os levaram a se rebelar contra algo que no final das contas, faz parte da vida da maior parte das pessoas.
Como em tudo na vida, penso que o equilíbrio é essencial: trabalhar é necessário, mas que as cargas horárias e as cobranças não sejam tão insanas quanto as atuais.
Trabalhamos, compramos, trabalhamos, gastamos mais, trabalhamos e gastamos mais ainda…
Será que precisamos mesmo de tantas coisas?
Não! Não mesmo.
Lá no fundo, muitas vezes bem lá no fundo mesmo, todos sabem disso.
O mundo corporativo atual é um grande teatro. Nas empresas chamam de inteligência emocional o que é na verdade a capacidade de alguns de engolir sapo o tempo todo e ter que dedicar horas bajulando os gerentes e diretores. Posso afirmar isso, pois estive entre os meus pares diretores e o ambiente e o pior possível.
Tive a disciplina e a sorte de virar fire aos 45 anos e hoje não imagino como poderia suportar voltar a essa rotina. Isso é muito pior do que trabalhar 12 horas por dia.
Assino embaixo Anon. Não poderia ter dito melhor:
“inteligência emocional o que é na verdade a capacidade de alguns de engolir sapo o tempo todo e ter que dedicar horas bajulando os gerentes e diretores”.
Bem verdade!
AA40
Tenho dificuldade em manter a ideia do fica pq sempre me pego gastando com comida, nao diga a essencial, comida de ifood, massas, coisas não saudáveis, industrializados de supermercados. Coisas que levam o dinheiro é ainda prejudica a saude
Nao está sozinho Paiva. Quem não cai em tentação as vezes? Mas tem que estabelecer um dia da semana para isso. Eu por exemplo, fixei o dia que tem jogo do meu time eu me permito comer algo que gosto (pizza, petiscos, cerveja, salgados, etc). No resto dos dias é aquela salada ceaser básica de jantar.
Nao se se tem a ver com FIRE, mas acredito que cada um mira aos seu objetivos durante a vida de forma diferente. Tem quem quer ser esforçado para chegar mais rapido e outro que busca mais equilibro. Agora ficando em casa vendo netflix o dia todo sem ter renda acho baboseira.
De qualquer forma a sociedade está mudando rapidamente e quem náo se adaptar vai ficar para traz. Mas quem está financiariamente independente pode ligar o f***-se!
Exato, na própria comunidade FIRE temos aqueles que querem chegar o mais rápido possível, mesmo sacrificando um pouco da vida no caminho. Outros não, querem ser FIRE mas vão no seu ritmo com mais equilíbrio e menos compromisso, mesmo que isso extenda alguns anos sua jornada.
Agora o “quem não se adaptar ficará para traz” é o detalhe. Muitos não se importam mais. Aceitam que é tão trabalhoso e cansativo tentar ficar na frente que não vale mais a pena. Esta é a questão. Quando muitos decidem por este caminho, é perigoso para a sociedade, para o crescimento econômico, para a sustentabilidade social e muitas outras questões como seguridade social, pobreza, problemas psicológicos e mais.
Abcs AA40
Esse movimento chinês não tem muito a ver com o movimento FIRE, mas me fez pensar em uma questão sobre o último:
Vocês do movimento FIRE querem sair do modo tradicional de vida do sistema – que é trabalhar até se aposentar na velhice – apostando no próprio sistema, que sobrevive justamente de pessoas que seguem essa linha de trabalhar até a velhice, uma vez que o principal plano de vocês conseguirem se aposentar cedo são, justamente, os investimentos na bolsa.
Não consigo pensar em um investimento nesse mundo que não esteja atrelado ao sistema que vocês tanto querem fugir (não estou julgando, pois eu também quero fugir dele).
Até uma casa comprada no meio do mato no interior do Brasil é algo atrelado ao sistema tradicional, pois, na hipótese mais básica e última, o terreno é garantido pelo Estado que, por sua vez, é sustentado com o dinheiro vindo da econômia tradicional.
Não quero entrar em teorias nem nada do tipo, pois acredito que as coisas se regulam com o tempo, por mais que no início seja uma mudança turbulenta.
O que eu tenho é uma pergunta para vocês do movimento FIRE:
Como vocês lidam com essa aparente contradição?
Porque se vocês saem do sistema tradicional, isso quer dizer que vocês não acreditam nele. Por mais que vocês digam que não acreditam nele para VOCÊS, isso indica que há aí um sintoma de falha no sistema onde, provavelmente, mais pessoas sentem o mesmo que vocês e só não fizeram nada a respeito, ainda.
Mas ao mesmo tempo vocês colocam todo o dinheiro de vocês em investimentos dentro desse sistema, que se sustenta pela forma que vocês estão querendo fugir. Ou seja, vocês também acreditam no sistema.
Como vocês veem isso?
Acreditam que podem surfar numa onda que ainda tem pouca gente, e por isso podem ter o privilégio de conseguir aproveitar todos os benefícios do sistema que é sustentado pelas pessoas que seguem o modo tradicional?
Acreditam que o sistema vai se reformular com o tempo, se aproximando de algo mais próximo do que vocês acreditam, e que isso só vai ser possível se as pessoas começarem a mudar para algo como o movimento FIRE?
Ou estão dispostos a arriscar todo o dinheiro de vocês apostando num sistema que vocês não acreditam, já que querem fugir dele?
As empresas que se valorizam e pagam o dividendos das ações que vocês compram, se mantém justamente porque usam o máximo que podem dos trabalhadores e vendem produtos para um mercado consumista. Vocês não querem ser os trabalhadores e nem os consumistas, e ainda querem convencer todos a também serem assim. Se isso acontecer, suas ações despencam e seus dividendos diminuem, isso se não virarem pó.
Enfim, no que vocês acreditam de fato?
Luis, entendo suas questões e eu mesmo já tive várias dessas questões. Algumas ainda não tenho respostas. Mas algumas já tenho.
Primeiro, não existe como fugir do sistema, isto é utopia. Para sermos FIRE teremos que trabalhar dentro do sistema, não há outro jeito. O que queremos é ficar o menos tempo possível dentro dele, dentro da roda dos ratos. Queremos ter a consciencia que sim estamos na roda dos ratos e queremos sair um dia. Melhor do que não se dar conta que está nela.Sair um dia só se consegue por meio de uma agressiva taxa de poupança, controle do custo de vida e investimentos, não só em bolsa, mas em renda fixa, alias minha maior alocação
Vamos depender do sistema sim para o plano dar certo. Se o sistema afundar, não há como ser FIRE e se isto acontecer, o mundo virará anarquia ou adotará um sistema totalitário então nao terá plano que vai funcionar. Mas como não trabalhamos com hipóteses mas sim com probabilidades, a probabilidade do sistema continuar dominando a vida de 95%+ das pessoas é maior do que qualquer mudança radical acontecer no nosso breve tempo de vida.
Poucos serão FIRE e isto é ótimo, como já escrevemos aqui. https://aposenteaos40.org/2018/11/fique-feliz-que-existam-pessoas-que-nao.html
Felizmente poucos levarão FIRE a sério e poucos farão o que é necessário para atingir a meta e isto não é ruim de forma alguma. E nós que vamos conseguir, precisamos muito daqueles que estão cegamente trabalhando para o sistema, pois são justamente eles quem trabalharão para que as empresas cresçam e deem lucros e nossas ações possam aumentar de preço e pagar dividendos cada vez maiores ! São eles quem pegarão empréstimos pagando juros altos para que nossos CDBs, LCIs, LCAs, debêntures, ações de bancos, de seguradoras, de construtoras e muitos outros possam crescer e render JUROS para nós FIREEs. Nós precisamos da manada, precisamos daqueles que vão dar o máximo! Mesmo no caso dos chineses, com bilhões de pessoas precisando comer todos os dias, você acha que qtos % dos jóvens de lá adotarão o Bai lan ou tang ping? 1%? 5%?
FIRE é um movimento egoísta? Sim, não discordo. O sistema não é justo e nunca será! Abcs
Respondendo o Luis: Tem um outro detalhe também: podemos estar “explorando” quem vai ficar eternamente na corrida de ratos agora, porém, a hora que nos declararmos FIRE, tambem vamos poder consumir mais e assim contribuir para o sistema , de uma forma mais confortável. Eu almejo gastar bem mais quando for FIRE do que gasto atualmente (com a minha taxa de poupança agressiva), portanto também iremos sustentar o sistema. Na prática é só um adiamento, guardando o que iria consumir agora para consumir no futuro