Prezados leitores, como sabem, acompanhamos anualmente a Taxa Segura de Retirada (TSR) e da Taxa Perpétua de Retirada (PWR) para o Brasil, atualizando os dados anualmente (posts anteriores da série). Mas esta edição é muito especial. Por quê? Temos ela:
Finalmente Temos 30 anos de dados no plano Real
Como vocês sabem, o estudo original de W. Bengen se baseou em retornos mistos de renda variável e renda fixa para períodos de aposentadoria de 30 anos nos EUA, em todos os períodos da histórica do mercado deles, e eles tem vários recortes de 30 anos possíveis na longa história do mercado americano.
No Brasil, finalmente completamos um recorte de 30 anos agora. O plano real e a estabilização econômica trazida por ele acabou de completar 30 anos, e como a TSR oficial é calculada só com no mínimo 30 anos de dados, temos agora como calcular a PRIMEIRA TSR OFICIAL DO BRASIL neste nosso primeiro período de 30 anos completos.
Metodologia
A metodologia vocês já sabem, mas vamos recapitular. Para a estudo, assumimos que uma pessoa declarou FIRE em Janeiro de 1995 com 1 milhão de reais. Sendo três cenários analisados. No primeiro o indivíduo investiu 100% no IBOV, nosso benchmark, o segundo cenário um 50%/50% entre IBOV e Selic/CDI, e um terceiro 100% em renda fixa atrelado a Selic/CDI. Lembrando novamente que o imposto de renda efetivo é particular de cada pessoa e parte dos saques que a TSR tem que cobrir. Para os investimentos em RF Selic só é pago no saque e sobre os rendimentos apenas, então, para efeitos de simplificação de cálculo, este será pago a partir do saque anual/mensal efetivo da TSR. Os saques (e rebalanceamento no caso da carteira 50/50) também são realizados no final do ano, ou seja, no primeiro ano em 31/12/1995, o indivíduo sacou a TSR já corrigida pela inflação daquele ano (R$ 48,964 no caso de uma TSR de 4%).
Vamos analisar, como de costume, a TSR que zera cada cenário no final desses 30 anos e também a PWR, ou taxa perpétua de retorno, que assume que você preserva seu capital inicial corrigido pela inflação no final do período de 30 anos (1 milhão de reais corrigidos pelo IPCA).
Os dados de 2024
Em 2024 o índice IBOVESPA fechou com uma queda de 10,36% ; a inflação IPCA fechou a 4,83%. A Selic média do ano de 2024 ficou em 10,8%.
- Inflação IPCA: +4,83% (Fonte: IBGE)
- Índice IBOV: -10,36% (Fonte: B3)
- Selic Média Anual: +10,8% (Fonte BCB)
Observação: Alguns leitores observaram alguns valores diferentes para Selic e Inflação em alguns dos anos que tínhamos nas tabelas das análises dos anos anteriores. Corrigimos estes valores com fontes mais seguras como BCB e B3. Por isso algumas das TSR e PWR dos posts dos anos anteriores podem ter mudado levemente.
A SafeMax (TSR)
Primeiramente, vamos analisar puramente usando a tradicional regra dos 4% da Taxa Segura de Retirada que é o número mais usado no mundo FIRE.
Aplicando ela, o investidor que declarou FIRE em Janeiro de 1995 com 1 Milhão de Reais, hoje teria, mesmo após os saques corrigidos pelo IPCA, 12 milhões de reais se aplicados no IBOV, 20 Milhões se aplicados metade no IBOV e metade em RF Selic e quase 28 milhões de reais se aplicado puramente em Renda Fixa CDI/SELIC.
Claramente então a TSR Máxima (Safemax) oficial no Brasil neste primeiro período é maior que 4%, certo? Vamos ver então qual seria a TSR SafeMax, ou seja, aquela que zera cada carteira no final dos 30 anos.
Carteira | TSR SafeMax (30 anos) |
---|---|
100% IBOV | 7,29% |
50% IBOV e 50% CDI/SELIC | 8,48% |
100% CDI/SELIC | 9,34% |
Como a TSR oficial usou 30 anos e uma carteira composta de 50% Renda Variável e 50% renda fixa, vamos assumir os mesmos parâmetros e declarar que :
A PRIMEIRA TSR OFICIAL DO BRASIL FOI DE 8,48%
A PWR (Taxa Perpétua de Retirada)
Para quem ainda não leu nosso post sobre a TAXA PERPÉTUA DE RETIRADA, ela é a taxa de retirada que preserva o investimento principal original ajustado pela inflação mesmo no final do pior período de tempo no horizonte definido de duração. Ao resistir ao pior cenário e deixar você com a mesma quantia de dinheiro com que começou e ainda corrigido pela inflação, você estará preparado para começar tudo de novo após um eventual cisne negro. Mesmo se você não tiver sorte e o pior cenário acontecer, seu portfólio inicial (também conhecido como principal) ainda estará protegido e este é uma taxa de retirada mais segura de se usar para os casos em que alguém vai viver FIRE por mais de 30 anos.
Primeiramente vamos corrigir o valor inicial de 1 milhão de reais pelo IPCA acumulado no período. Temos que hoje aquele 1M é o equivalente a R$ 6.984.988.40 (O real perdeu quase 7 vezes o seu valor em 30 anos). Vamos ajustar a taxa de retirada para no final dos 30 anos termos no mínimo este valor em carteira.
Carteira | TAXA PERPÉTUA DE RETIRADA |
---|---|
100% IBOV | 5,45% |
50% IBOV e 50% CDI/SELIC | 6,93% |
100% CDI/SELIC | 8,00% |
Sabemos que a maioria gostaria de manter o patrimônio inicial intacto e corrigido pela inflação, assim não se corre o risco de ficar sem dinheiro quando mais precisarmos, além de poder deixar herança se quiser ou gastar mais no final da vida. Mesmo assim o valor da PWR é maior que 4% para todos as carteiras, o que é uma ótima notícia.
A PRIMEIRA PWR OFICIAL DO BRASIL FOI DE 6,93%
O Risco da Sequência de Retornos
Como já sabemos e explicamos em detalhes aqui, o risco da sequência de retornos ocorre quando retiradas regulares de um portfólio durante períodos de retornos negativos reduzem significativamente o saldo do investimento, dificultando a recuperação mesmo quando os retornos se tornam positivos.
Simulamos o caso onde os piores retornos do IBOV acontecem nos primeiros anos FIRE, bem como os juros mais baixos do período e a maior inflação acontece no periodo inicial. Cenário bem improvável mas mesmo assim é bom olhar qual teria sido a TSR no período caso isso tivesse acontecido.
Temo ai então que no pior dos mundos a TSR seria de 0,57% apenas.
Leia mais como gerenciar este risco no post:
Conclusões
Os resultados apontaram que a Taxa Segura de Retirada (TSR) no Brasil, pelo menos a primeira, foi significativamente mais alta do que a tradicional regra de 4% amplamente utilizada em mercados como o dos Estados Unidos. Com uma TSR de 8,48% ao ano, os FIRE brasileiros poderiam retirar uma porcentagem maior de seus portfólios.
Devo usar 8,48% no meu planejamento? Não. Como já falamos, este é apenas 1 periodo, o primeiro e único que temos até agora e este valor é estatisticamente insignificante e insuficiente para tirar qualquer conclusão. Por isso usamos que “a TSR FOI” e não a “TSR é”, para evitar confusão. Só poderemos afirmar que a “TSR oficial é” quando tivermos pontos suficientes de dados para ser estatisticamente significante.
A boa notícia é que em 2026 já teremos dois periodos para analisar. Não precisamos mais esperar 30 anos para ter outro intervalo de dados já que a cada ano agora teremos um novo periodo de 30 anos completos (1995-2025; 1996-2026, etc)
Algumas conclusões podem ser tomadas porém. Claramente o Brasil é o país da renda fixa e, mesmo quem não arrisca consegue bons retornos e valores que mais que cobrem a inflação e proporcionam juros reais na maioria dos períodos, mesmo quando desconsideramos os juros altíssimos do início do periodo analisado. A segunda conclusão é que 4% de TSR é segura para o Brasil.
Finalmente, recomenda-se muita flexibilidade a todos os que estão no caminho FIRE. Se adaptar a realidade da economia e do mercado é fundamental. Reduzir os saques em tempos de crise é uma estratégia muito importante, além de procurar renda extra de alguma forma tanto para manter-se ativo e usando a mente quanto para suplementar a renda. Evitar sequências de retorno negativos na fase inicial é crucial e faz toda a diferença entre sucesso e fracasso do seu plano FIRE (TSR de 8% ou 0,5%).
Tão importante quanto flexibilidade é planejar seus investimentos de acordo com a fase de vida que está vivendo de modo a obter o máximo retorno com o menor risco possível.
Grande abraço e por favor comentem o que acharam dos números – AA40
Espetacular. Eu considero que o IGPM é muito melhor em prever a manutenção do poder de compra.
Corrigindo pelo IGPM, um milhão em 1995 equivalem hoje 11 milhões, então mesmo no pior cenário (100% IBOV), quem começou a viver de renda em 1995 e fez saques de 4% ao ano ainda assim teve o seu poder de compra preservado.
Interessante ver o poder brutal de uma sequencia de retornos negativos no inicio, por isso eu não uso a regra clássica de retirada de 4%, pois ela é muito rígida, uso um gasto baseado no porcentual do patrimônio com com um piso mínimo. Ainda mantenho uma reserva de emergência maior do que no período de acumulação e parte do patrimônio pagando renda passiva para evitar ter que vender ativos em situação desfavorável.
Abraços.
É isso ai Mendigo. O importante é ter uma regra e seguir. Essa TSR calculada dá uma idea boa do que foi possível no primeiro período, mas não se pode usar ela cegamente.
Abcs
AA40
Você é top, cara! Obrigado por compartilhar conosco seu estudo. No primeiro ano fire retirei 3,2% com 90% em renda fixa, a grande maioria com ipca + com juros. Como já tenho 56 anos acho que posso afrouxar um pouco os gastos. Rsrsrs.
Valeu! Com certeza pode afrouxar um pouco a corda Cláudio. Com 56 anos e uma TSR de 3.2% é extremamente conservador. Dá pra aproveitar um pouco mais. Abcs AA40
Obrigada pelo seu trabalho, AA40!
Valeu Professora. Volte sempre
AA40 muito obrigado por organizar e publicar esse post sobre taxa segura de retirada, mas concordo que essa taxa foi e não é a taxa segura devido ter sido a primeira desde a estabilidade econômica. Espero que a taxa nos anos futuros continue acima do famoso 4% e que todos nós consigamos alcançar e viver bem nossa independência financeira mesmo vivendo num país tão cheio de crises econômicas e problemas dos mais diversos possíveis. Eu gosto da taxa de 5% para retiradas anuais acima da inflação e espero que este número se confirme futuramente. Vamos que vamos seguindo sempre nossos planos, pois depender de terceiros na aposentadoria com certeza não é uma boa escolha, aliás é uma péssima opção. Valeu!
Nos próximos anos ela deve ficar próximo disso sim. Acho que a principal mensagem aqui é que 4% são seguros no Brasil e se pode usar de boa.
Abcs AA40
Parabéns pelo estudo! Agradeceremos muito se puderes fazer a TSR e a PWR atualizada dos últimos 20 anos do Brasil .
Acredito que a TSR e a PWR dos últimos 20 anos é mais próxima da realidade de hoje pois elimina os anos iniciais do plano real na qual a taxa selic era absurdamente alta (chegando a absurdos 45,90).
Esses dados dos últimos 20 anos ajudariam muito a comunidade Fire brasileira.
Fica essa ideia para o próximo post.
Obrigado!
Obrigado Sousa, mas como já explicamos várias vezes, não se pode calcular TSR para períodos menores de 30 anos. Os números serão ainda mais altos pq vc vai consumir todo o dinheiro em 20 anos, não em 30, por consequência poderá consumir um maior percentual do seu patrimônio, entende. Por isso o que vc quer calcular não faz sentido. Abcs AA40
AA40,
Muito interessante ver o primeiro resultado sobre TSR para o Brasil.
Acredito que por enquanto é uma informação mais de curiosidade do que um fato econômico em si, aquela dinâmica da nossa economia entre 1995-1998, nos primeiros anos do Real me parece muito diferente da dinâmica que começou após 1999, em especial após 2003.
De qualquer forma a sequência de dados dos próximos anos será muito interessante para o estudo.
Uma TSR de 8% me parece muito boa para um brasileiro médio.
Abraços,
Pi
Sim Poupador. É mais um fato do que algo útil para ser usado. O famoso 4% é ainda o melhor caminho e mais seguro também. 8% só usaria se estivesse com mais de 65 anos de idade e com aposentadoria do INSS pingando sem contar no cashflow.
Abcs AA40
Muito obrigado AA40, por dedicar parte do seu precioso tempo para organizar dados e alimentar a comunidade com estas informações preciosas. A grande maioria das pessoas que tem o pé atrás com a TSR de 4% é justamente pelo Bengen ter partido da realidade americana, esse teu estudo ratifica que 4% é mais do que segura para a realidade brasileira. Abraços e mais uma vez obrigado.
Obrigado Anon. Foi essa a ideia, mostrar que 4% são sim seguros no Brasil, pelo menos por enquanto tem sido.
Abcs e vamos acompanhando ao longo dos anos
AA40
Muito interessante AA40, mas talvez pelo fato do rendimento em renda fixa ter sido absurdamente alto nos primeiros anos, fica a sensação que é uma taxa boa demais pra ser verdade.. Quem teria coragem de sacar 8.4%? (a não ser, como vc disse, reduzindo essa taxa numa crise por via das duvidas)
Por curiosidade eu fiz umas simulações no site da Brasilprev (https://www1.brasilprev.com.br/longevidade/simule-sua-renda) pra descobrir qual taxa eles usam pra uma renda vitalícia a partir dos 50 anos (que é a idade minima deles), e é aprox. 4.9% para homens e 4.5% para mulheres. (E claro a taxa vai aumentando conforme a idade de inicio de recebimento..) Nao sei exatamente quanto de”lucro”eles esperam ter (ou seja quanto tempo esperam que a pessoa morra antes que acabe todo o dinheiro), mas me parece uma taxa “realista”.. abraço
Sacar 8.4% não dá né…..só tlvz se estivesse com uns 70 anos e aposentado pelo INSS. Interessante este link. “Acho” que no longo prazo a TSR brasileira deve se estabilizar nestes valores ai mais ou menos, entre 4.5 a 5. Acho que está bem coerente.
Abcs
AA40
No início do plano real o salário mínimo era em torno de R$ 64,5. A pessoa que se aposentou com a premissa do estudo ( R$ 1 mi) teria 15.500 salários mínimos de patrimônio. Se considerarmos o salario minimo em 2024, seria um cenário de uma pessoa com algo próximo a R$ 22 milhões de patrimônio. Não sei se isso influencia na análise dado que o objetivo é avaliar a taxa de retirada. De toda forma, no anuário mensal sempre vejo que o objetivo da média FIRE são R$ 3 milhões.
É Luiz, uma matrica interessante, mas o salário mínimo é mais uma ferramenta política do que baseado em inflação. Tem anos que não reajustou, tem anos que reajustou bem acima da inflação, então fica complicado usar como múltiplo, mas não deixa de ser interessante observar.
3 Mi tinha sido o objetivo nos anos passados, mas acho que neste ano será um pouco maior dado ao pessimismo maior quando ao Brasil no momento. O anuário deste ano está devagar, só temos umas 70 respostas até o momento. Vai ficar complicado publicar se não tivermos mais respostas,…
Abcs AA40
Parabéns pelas informações. Obrigado. Tem um estudo recente que pode complementar a visão atual.
https://ibee.substack.com/p/o-quebra-cabeca-do-consumo-na-aposentadoria
Obrigado pelo Link Flávio, vou ler com calma.
Abcs AA40
Excelente trabalho, AA40. Reforço aqui a demonstração de gratidão que os colegas acima já postaram, pelo seu empenho em cultivar a comunidade FIRE no Brasil.
Confesso que fiquei impressionado com os valores, eu já esperava um valor maior que 4%, mas não tão alto. Acho que estou escaldado, meu retorno líquido médio acima da inflação nos últimos 6 anos foi de somente 1% ao ano, isso investindo quase 100% em Tesouro Direto. Como estou muito perto de me retirar, alonguei meus títulos ao longo dos últimos 2 anos (de forma prematura, no momento é possível dizer), e obviamente estou agora sofrendo com a marcação a mercado. Creio que estamos passando por um período crítico no Brasil, os próximos 2 anos serão decisivos para a estabilidade da nossa moeda. Isso gera muita ansiedade para aqueles que, talvez por falta de conhecimento ou mesmo de coragem, não conseguem tirar suas economias do país. Mas o resultado desse estudo é animador, se não voltarmos a uma hiperinflação nesse período, dá sim para pensar em viver de renda com capital alocado 100% no Brasil.
Abraços,
Obrigado Anon.
Pois é, ficar só em Selic tem seus prós e contras. Estabilidade mas perde quando a inflação dispara. Ainda acho que uma boa alocação em IPCA+ vale a pena, mas tbm tirar um pouco do patrimonio do Brasil, se o brasil der calote na dívida, o que é difícil acontecer mas não impossível, os títulos vão se desvalorizar MUITO. Melhor ter uma reservinha de emergencia em dolar, just in case.
Abcs
AA40
Parabéns pelo estudo AA40, isso me tranquiliza um pouco mais, pelo FIRE 8% eu tô FIRE já, mas pelo 4% eu to meio que na metade do caminho. Mas acredito que em 4 anos pode ser que seja possível alcançar o FIRE em 4%. Obrigado por compatilhar seu conteúdo. Muito importante para a comunidade.
Abraços
4 Anos é pouco tempo. Continue na jornada que chegará lá. Curta a jornada tbm
Abcs AA40
Parabéns pelo trabalho, amigo. Isso vai nos dando uma base mt boa sobre nossa expectativa de aposentadoria.
Obrigado Roger. A ideia é essa
Abcs AA40